quarta-feira, 25 de junho de 2008

Sózinha no meio da multidão

Será do sol?
De estarem todos a trabalhar?
Será de ontem me terem dito que eu era uma pessoa boa e todos deviam ser como eu?
Ou ainda, de dizer à amiga(?) do homem que me despedaçou o coração que ele é boa pessoa e nunca lhe fará isso a ela?
De apoiar os familiares que precisam?

Não sei...
Mas cada vez mais me apercebo de quão pouco as pessoas me conhecem!
Ou de como me tornei especialista a disfarçar o que sinto e penso, e que as pessoas só conseguem ver realmente uma minúscula parte de mim, tal como no icebergue, em que a grande massa está escondida por baixo de água.
Cada vez me sinto mais sozinha, no meio de um imenso oceano de pessoas, de conhecidos, de amigos, família, colegas ou ex-colegas, que flutuam à minha volta sem realmente me conhecer.

Não esquecer também o aspecto masoquista da questão, em que apesar de sofrer, de estar em baixo, de tantas coisas que me fazem ou fizeram e que me magoaram, não consigo deixar de tentar ajudar as pessoas que me pedem ajuda. Mesmo as que me magoaram, mesmo as que me usaram de alguma forma.
Não tenho nem nunca tive, como já referi anteriormente, vocação para santa!
Só pode ser doença, patologia, masoquismo do mais puro!
Que outra forma de explicar esta mania de esquecer as minhas mágoas, disfarçar com um sorriso e uma piada a dor que vai na alma, esquecer as facadas e as cicatrizes e continuar a tentar ajudar os outros?
Ou pelo menos tentar consolá-los, não lhes dar preocupações, facilitar a vida, ...
Estar disponível sempre que necessário, prescindir do meu tempo ou vida para apoiar quem precisa, mesmo que não me seja próximo...

Talvez seja esta mania de resolver sozinha as minhas coisas, de esconder o que sinto, as cicatrizes ou as facadas, as desilusões que me fazem sentir tão sozinha no meio da multidão.
Talvez seja esta mania de ignorar o que sinto para ajudar quem precisa que faz com que não me sinta realmente próxima de ninguém ou de nada.
Ou talvez seja o facto de me aperceber que as poucas vezes que deixo cair a "mascara" acabo mais magoada ainda, e que realmente a maioria das pessoas não vale esse esforço nem se preocupa em saber o que há por trás...
Mas o mais provável é que seja algo que está tão enraizado, que vem de há tantos e tantos anos, que já nem sei reconhecer o que sou.
Já não sei mostrar os sentimentos reais, a dor ou a mágoa.
Já são tantos anos de atirar para trás das costas as coisas que magoam ou fazem sofrer, tantos anos a prescindir do que quero para que todos estejam bem... que se calhar o meu icebergue já só tem a ponta fora de água, o resto já só é um imenso vazio oco, sem sensações, sem pensamentos!
Tantos anos a mostrar uma imagem de força, de independência, que ela se tornou parte de mim.
E a verdade é que as poucas vezes, as raras vezes, que deixei esse papel de "forte", acabei por sofrer mais do que se o tivesse mantido - o que prova que mais vale estar só e não me magoar, do que mostrar a realidade!

Vou conhecendo pessoas, tendo novas experiências, aprendendo novas coisas, mas a sensação persiste.
O isolamento, a solidão no meio de tanta gente, a sensação de ser um fantasma que atravessa a vida sem que nunca olhem bem para ele, é algo que ciclicamente aparece.

E tudo isto é a enorme contradição que me caracteriza enquanto pessoa!
Pois enquanto me sinto sozinha no meio da multidão, enquanto represento o meu papel de forte e independente, enquanto escondo as fraquezas e receios submersos num oceano de água, acredito e vivo a minha vida ao máximo, em que cada oportunidade é única e deve ser explorada e vivida ao máximo!
E quando vivo as coisas que me acontecem... não penso na mágoa que podem trazer, nem na dor que podem causar - simplesmente vivo.

Não penso nisto como sendo depressão, não é algo que se trate com comprimidos e se envie a pessoa de volta para o "mundo". É algo que já é intrínseco a mim. Faz parte de mim, do que eu sou.
Não sei se esta "dor", esta sensação de solidão algum dia desaparecerá.
Não sei se algum dia o icebergue terá mais fora de água que aquilo que está submerso.
Mas sei que cada vez mais aprendo a viver com isso, com esta sensação, aproveitando os momentos que posso, ignorando os que magoam e tentando ser feliz, de alguma forma!

Porque apesar de tudo, desta solidão, desta sensação de "invisibilidade", de não me conhecerem pelo que sou e como sou, sou feliz!
Ou quero ser feliz!!!

2 comentários:

Zé dos Anzóis disse...

Deves continuar sempre em busca dos teus sonhos, mas nunca re esqueças que um sonho sonhado a sós, nunca passará disso mesmo, dum sonho; já um sonho sonhado em conjunto é a realidade.
Beijo
Za

Anónimo disse...

Eu vou sempre procurando os meus sonhos.
Neste momento já só penso neles como sonhos sonhados a sós, pois todos os que foram sonhados a dois e que eu acreditei (ou me fizeram acreditar) serem realidade...foram mais pesadelos.
Mas vou continuar a lutar para ser sempre feliz e/ou pelo menos honesta comigo.
Só não sei já se é real ou apenas mais uma personagem que encarno :-)
um dia penso niss
beijo grande

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