Adoro a maior parte das coisas que escreve, com que me identifico bastante. É impossível transcrever só uma, pois é tão pertinente tudo o que diz, em relação a amizade, amor, enamoramento, paixão....
Aqui vos deixo alguns extractos, compilados como se de um texto se tratassem, pois complementam-se:
A simples amizade com outro, por muito profunda que seja, não significa que uma pessoa lhe entregue toda a sua pessoa e a sua vida, a sua alma e o seu corpo. Essa é a diferença entre a amizade e o amor conjugal entre homem e mulher. A própria estrutura corporal e dos sexos expressa essa mútua referência: o homem está capacitado, na alma e no corpo, para entregar-se inteiramente a uma mulher, e vice-versa.
Há três níveis que constituem o amor entre o homem e a mulher:
- A atracção física: é o nível mais elementar, está sempre presente e é comum à natureza animal. Isto só não basta para fundamentar o amor humano de verdade. Neste nível, o outro pode ser também considerado como um simples objecto do apetite sexual. Mais do que amar, isso seria usar o outro, como se fosse uma coisa.
- O enamoramento afectivo : é uma sintonia entre as maneiras de ser das duas pessoas, que faz com que gostem muito de estar juntos, que gostem de conhecer os detalhes da vida do outro, etc. É já algo tipicamente humano. É o começo do amor, ainda que não baste para um amor autêntico. O enamoramento é um fenómeno espontâneo, não voluntário. Uma pessoa não decide friamente enamorar-se de outra; uma pessoa, sem saber como, encontra-se enamorada. E esse enamoramento deve-se aos aspectos positivos e agradáveis do outro; não tem em conta os seus defeitos. Também pode suceder que uma pessoa goste mais do simples facto de "estar enamorado" - porque produz uma sensação de entusiasmo - do que da própria pessoa de quem se enamora. Nesse caso o enamoramento estaria misturado com egoísmo. Não seria verdadeiro amor. Para ser estável, o enamoramento tem que passar ao terceiro e último nível.
- O amor conjugal : é muito mais que o enamoramento. Não é só um processo espontâneo, mas transforma-se numa atitude voluntária, livremente assumida. O amor que surgiu sem intervenção da vontade converte-se numa decisão livremente assumida de entregar-se ao outro, amando-o tal e como é e como será, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença. Porque aceita a pessoa inteira, não apenas com as coisas boas que o enamoram, mas também com os defeitos que lhe desagradam. E aceita-a como alguém que vai compartilhar e condicionar toda a sua vida. Ama-a não por ser assim ou de outra forma, mas por si própria, a ela, sem mais, para sempre. E entrega-se todo, entrega-se a si próprio, coração, corpo e vida inteira.
Estes três níveis integram-se perfeitamente entre si. O amor conjugal apoia-se nos outros dois níveis anteriores e supera-os. Por isso, os outros dois estão feitos para poderem expressar e realizar essa entrega total da pessoa. Isto nota-se, por exemplo, por o enamoramento afectivo e a excitação corporal tenderem a absorver totalmente a pessoa, pois estão feitos para poderem exprimir a entrega total do próprio eu.
A própria dinâmica física do sexo, que enlouquece e está feita para chegar ao fim, mostra que é uma expressão adequada desse amor espiritual que se entrega de todo, até ao fim. De quem está apaixonado a sério, diz-se que está louco de amor. A loucura da carne está feita para poder exprimir e realizar essa loucura do espírito.
O amor é o sentimento mais íntimo e o maior que tem a pessoa humana, o que a absorve por inteiro. Por isso, o prazer que se obtém da sua expressão corporal no acto conjugal é o maior dos prazeres corporais e o que mais absorve. O mesmo acontece com o entusiasmo que provoca o enamoramento afectivo, que tira uma pessoa de si mesma, para a fazer viver no outro.
A alegria e a felicidade da mútua entrega das duas pessoas apoia-se e une-se ao prazer da afectividade e do corpo. Quando os três se unem, que é o previsto pela natureza, é possível alcançar o grau maior de alegria e de prazer. Mas, se se procurar, por exemplo, só o prazer físico, então o próprio prazer diminui. E não satisfaz. Sabe a muito pouco, porque, na realidade, é só uma parte, e a parte mais pequena, da alegria da entrega com alma e corpo, que só é possível na entrega total do casal.
Se o corpo é a expressão da alma, o amor expressa-se também através do corpo. As expressões corporais de carinho têm sentido quando há um verdadeiro amor entre as pessoas. Não basta a atracção física ou o simples enamoramento afectivo, deve haver pelo menos um começo de amor conjugal. Então é verdade que essas carícias são expressão de amor.
Se não, do que são expressão é da fome de prazer ou de afecto. E o outro não vive como uma pessoa a quem me entrego, mas como um objecto que satisfaz o meu apetite sexual, do mesmo modo que um caramelo satisfaz o gosto. Quando se usa outra pessoa desta maneira, não a amamos, nem sequer a respeitamos, porque se utiliza a sua intimidade.
A utilização sexual rebaixa irremediavelmente a pessoa, precisamente porque não pode deixar de afectar a sua mais profunda intimidade. Uma vez que o sexo é expressão da nossa capacidade de amar, toda a utilização sexual chega ao mais íntimo e implica a totalidade da pessoa espiritual. O próprio facto de usá-la como objecto já é uma falta de respeito para com a sua pessoa, do mesmo modo que se se usasse o seu corpo para proteger-me dos disparos que outro me pudesse fazer. Isso vai contra a sua dignidade. A experiência indica depois quando algo é expressão de carinho ou simples fome de prazer. Se é simples fome de prazer, é mau, porque estou usando, não amando.
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