Pensava nos últimos dias, nos últimos meses, nos últimos tempos daquela relação e não conseguia compreender o que estava ali a fazer, com ele, com aquelas pessoas, a caminho de uma passagem de ano que ela odiava com gente que não gostava!
Já há algum tempo que as coisas não andavam bem, que ela não se sentia bem naquela relação, que sentia que estava a ser enganada, que já não fazia parte da vida dele, mas o intenso amor que sentia por ele fazia com que procurasse esquecer tudo isso, procurasse superar todos esses sentimentos que insistiam em inundar o seu coração e a sua alma!
E ali sentada, enquanto eles ou ouvia falar de futilidades e antecipar as bebedeiras de mais logo, ela sentia, cada vez mais veementemente, que não pertencia àquele mundo, que não era aquilo que queria para si e para o seu futuro.
Todos estes sentimentos tinham ganho nova vida no Natal e estava a ser muito difícil esquecer o quanto ela tinha ficado magoada.
O Natal, aquela época que ela gostava mais do que tudo, pelo prazer de oferecer prendas, procurar a prenda certa para oferecer, encontrar aquela coisa que faz brilhar os olhos de quem recebe, pois era exactamente o que queriam.
E o Natal, com ele, ganhava nova vida, pois ele tornara-se mesmo mais importante que a sua família e as suas prendas tinham sido cuidadosamente pensadas e procuradas por toda a cidade.
Mas este ano tudo tinha mudado!
Chegada a véspera, ele tinha consecutivamente adiado o encontro deles e anulara mesmo o jantar, primeiro por problemas no trabalho, depois porque "iam todos sair e beber um copo e ele não podia vir embora assim".
Então, quase quando ela estava de partida para a reunião familiar tradicional desta época, ele finalmente aparecera, ainda com a roupa de trabalho, directamente dos copos e a cheirar a perfume.
Ela tinha tentado ignorar tudo isso, tal era a alegria de o ver e a antecipação de ver a cara dele com as prendas que ela tinha tão cuidadosamente procurado e para as quais tinha poupado durante tanto tempo.
Ele, qual criança mimada, abrira logo as suas prendas e, como ela previra, adorou cada uma delas, brincando com ela pela quantidade de prendas (mas ela sempre fora exagerada).
Em seguida, com ar meio desajeitado, colocara a mão no bolso e tirara uma embalagem comprida que ela percebera logo o que era, especialmente quando ele disse que não "tinha tido tempo" de procurar outra coisa.
O coração tinha parado!
Ela sabia o que era antes mesmo de abrir, mas não queria acreditar que, ao fim de tanto tempo, com o trabalho bem remunerado que ele tinha, com as condições que ele tinha, era "aquilo" que lhe ia oferecer no Natal?!
Procurara afastar esses pensamentos enquanto estendia a mão para agarrar a "prenda" dele, iludindo-se com a ideia de que era só a embalagem e que devia ser algo diferente.
Mas, quando abrira a prenda, os seus piores receios confirmaram-se - ele tinha-lhe oferecido uma esferográfica!!!
Ela nunca se considerara materialista, nem fora só o valor da prenda o que mais a tinha chocado nesse momento.
Era a oferta em si!!!
Ele tinha-lhe oferecido uma esferográfica, daquelas que os clientes dele lhe tinham oferecido!!!
Daquelas que as empresas oferecem aos fornecedores ou aos quadros das empresas com quem trabalham!!!
O choque tinha sido brutal!!!
Ele nem sequer se tinha dignado a procurar uma prenda de Natal para ela!!!
E era tão simples encontrar uma prenda que lhe agradasse, que fosse um sinal que ele tinha pensado nela!
Mas, em vez disso, ele tinha aparecido com uma caneta que tinha recebido na empresa?!
E ainda tentara disfarçar, ao ver a cara dela a olhar para "aquilo", dizendo que tinha pensado nisso para ela usar no trabalho?!
Mas será que ele pensava que ela era assim tão parva, ingénua, crédula... nem sabia o que pensara naqueles momentos!!!
Furiosa, expulsara-o de casa mais a sua "prenda" dizendo-lhe que para "prendas" daquelas nem precisava de se preocupar em dizer que era Natal, que ficasse com os colegas e as colegas e fosse muito feliz... nem se lembrava, tal tinha sido a sua fúria, desilusão, tristeza.
Nesse dia tinha jurado a si mesma que tudo estava acabado, mas a verdade é que os telefonemas dele com inúmeros pedidos de desculpa, as palavras dele, a voz dele... tinham de novo amolecido o seu coração e, contra tudo o que ela realmente queria, contra o que ela decidira, aqui estava ela no carro, a caminho de mais uma infindável passagem de ano com os amigos dele.
Todos estes sentimentos a acompanhavam durante a noite, enquanto circulava pela festa, naquela casa alugada que não lhe dizia nada, no meio daquelas pessoas com quem não se identificava e das quais não conhecia metade, naquela festa que não significava nada para ela.
E ia observando como ele parecia bem, enquanto de embebedava alegremente no meio daquela multidão e sentia o coração cada vez mais apertado, cada vez se sentia mais "sufocar" naquela luta entre o que sentia por ele e o que sabia que era mais saudável para ela.
Mesmo antes da meia-noite, finalmente, conseguiram sentar-se um pouco no jardim e conseguiram falar.
E foi nesse momento, quando no meio da conversa ele lhe anunciou que queria comprar/alugar casa, porque já não ia prestar o serviço militar, que ela teve a certeza que aquela relação não era o que queria.
E quando ele lhe disse (ele ainda não tinha percebido que quando estava bêbado falava demais e não era aquele rapaz que controlava e media bem as suas palavras) que já sabia há meses que não ia prestar serviço militar e que a casa seria só para ele, ou para ele e um amigo, e que ela poderia "visitar" quando quisesse, ela teve a nítida noção que realmente não havia amor que chegasse para suportar uma relação de aparências, em que os objectivos de vida, as próprias personalidades de cada um deles e os objectivos da relação eram tão diferentes.
Ao compreender que em vez de ser das primeiras pessoas a saber os planos de vida dele, os sonhos e ambições, era a última, ela teve a certeza que todas as dúvidas e incertezas que a assaltavam nos últimos meses eram uma realidade e não adiantava mais esconder a verdade!
Nesse momento, como se fosse um sinal divino, começaram a dar as badaladas da meia-noite e enquanto se levantavam rapidamente para beber o champanhe e comer as passas, porque há que manter as tradições, formou-se, de uma forma cristalina, na sua cabeça qual iria ser a decisão de ano novo.
E por isso, quando soaram as 12 badaladas e ele a beijou e perguntou, a cair de bêbado, o que ela tinha desejado para o novo ano, ela só lhe respondeu:
- O que desejo, vou obter desde já. Está tudo acabado entre nós!
E virando as costas, foi-se embora, sem voltar a olhar para trás, com o coração pesado, mas a alma leve por ter tomado a decisão que adiara tanto tempo!
Já há algum tempo que as coisas não andavam bem, que ela não se sentia bem naquela relação, que sentia que estava a ser enganada, que já não fazia parte da vida dele, mas o intenso amor que sentia por ele fazia com que procurasse esquecer tudo isso, procurasse superar todos esses sentimentos que insistiam em inundar o seu coração e a sua alma!
E ali sentada, enquanto eles ou ouvia falar de futilidades e antecipar as bebedeiras de mais logo, ela sentia, cada vez mais veementemente, que não pertencia àquele mundo, que não era aquilo que queria para si e para o seu futuro.
Todos estes sentimentos tinham ganho nova vida no Natal e estava a ser muito difícil esquecer o quanto ela tinha ficado magoada.
O Natal, aquela época que ela gostava mais do que tudo, pelo prazer de oferecer prendas, procurar a prenda certa para oferecer, encontrar aquela coisa que faz brilhar os olhos de quem recebe, pois era exactamente o que queriam.
E o Natal, com ele, ganhava nova vida, pois ele tornara-se mesmo mais importante que a sua família e as suas prendas tinham sido cuidadosamente pensadas e procuradas por toda a cidade.
Mas este ano tudo tinha mudado!
Chegada a véspera, ele tinha consecutivamente adiado o encontro deles e anulara mesmo o jantar, primeiro por problemas no trabalho, depois porque "iam todos sair e beber um copo e ele não podia vir embora assim".
Então, quase quando ela estava de partida para a reunião familiar tradicional desta época, ele finalmente aparecera, ainda com a roupa de trabalho, directamente dos copos e a cheirar a perfume.
Ela tinha tentado ignorar tudo isso, tal era a alegria de o ver e a antecipação de ver a cara dele com as prendas que ela tinha tão cuidadosamente procurado e para as quais tinha poupado durante tanto tempo.
Ele, qual criança mimada, abrira logo as suas prendas e, como ela previra, adorou cada uma delas, brincando com ela pela quantidade de prendas (mas ela sempre fora exagerada).
Em seguida, com ar meio desajeitado, colocara a mão no bolso e tirara uma embalagem comprida que ela percebera logo o que era, especialmente quando ele disse que não "tinha tido tempo" de procurar outra coisa.
O coração tinha parado!
Ela sabia o que era antes mesmo de abrir, mas não queria acreditar que, ao fim de tanto tempo, com o trabalho bem remunerado que ele tinha, com as condições que ele tinha, era "aquilo" que lhe ia oferecer no Natal?!
Procurara afastar esses pensamentos enquanto estendia a mão para agarrar a "prenda" dele, iludindo-se com a ideia de que era só a embalagem e que devia ser algo diferente.
Mas, quando abrira a prenda, os seus piores receios confirmaram-se - ele tinha-lhe oferecido uma esferográfica!!!
Ela nunca se considerara materialista, nem fora só o valor da prenda o que mais a tinha chocado nesse momento.
Era a oferta em si!!!
Ele tinha-lhe oferecido uma esferográfica, daquelas que os clientes dele lhe tinham oferecido!!!
Daquelas que as empresas oferecem aos fornecedores ou aos quadros das empresas com quem trabalham!!!
O choque tinha sido brutal!!!
Ele nem sequer se tinha dignado a procurar uma prenda de Natal para ela!!!
E era tão simples encontrar uma prenda que lhe agradasse, que fosse um sinal que ele tinha pensado nela!
Mas, em vez disso, ele tinha aparecido com uma caneta que tinha recebido na empresa?!
E ainda tentara disfarçar, ao ver a cara dela a olhar para "aquilo", dizendo que tinha pensado nisso para ela usar no trabalho?!
Mas será que ele pensava que ela era assim tão parva, ingénua, crédula... nem sabia o que pensara naqueles momentos!!!
Furiosa, expulsara-o de casa mais a sua "prenda" dizendo-lhe que para "prendas" daquelas nem precisava de se preocupar em dizer que era Natal, que ficasse com os colegas e as colegas e fosse muito feliz... nem se lembrava, tal tinha sido a sua fúria, desilusão, tristeza.
Nesse dia tinha jurado a si mesma que tudo estava acabado, mas a verdade é que os telefonemas dele com inúmeros pedidos de desculpa, as palavras dele, a voz dele... tinham de novo amolecido o seu coração e, contra tudo o que ela realmente queria, contra o que ela decidira, aqui estava ela no carro, a caminho de mais uma infindável passagem de ano com os amigos dele.
Todos estes sentimentos a acompanhavam durante a noite, enquanto circulava pela festa, naquela casa alugada que não lhe dizia nada, no meio daquelas pessoas com quem não se identificava e das quais não conhecia metade, naquela festa que não significava nada para ela.
E ia observando como ele parecia bem, enquanto de embebedava alegremente no meio daquela multidão e sentia o coração cada vez mais apertado, cada vez se sentia mais "sufocar" naquela luta entre o que sentia por ele e o que sabia que era mais saudável para ela.
Mesmo antes da meia-noite, finalmente, conseguiram sentar-se um pouco no jardim e conseguiram falar.
E foi nesse momento, quando no meio da conversa ele lhe anunciou que queria comprar/alugar casa, porque já não ia prestar o serviço militar, que ela teve a certeza que aquela relação não era o que queria.
E quando ele lhe disse (ele ainda não tinha percebido que quando estava bêbado falava demais e não era aquele rapaz que controlava e media bem as suas palavras) que já sabia há meses que não ia prestar serviço militar e que a casa seria só para ele, ou para ele e um amigo, e que ela poderia "visitar" quando quisesse, ela teve a nítida noção que realmente não havia amor que chegasse para suportar uma relação de aparências, em que os objectivos de vida, as próprias personalidades de cada um deles e os objectivos da relação eram tão diferentes.
Ao compreender que em vez de ser das primeiras pessoas a saber os planos de vida dele, os sonhos e ambições, era a última, ela teve a certeza que todas as dúvidas e incertezas que a assaltavam nos últimos meses eram uma realidade e não adiantava mais esconder a verdade!
Nesse momento, como se fosse um sinal divino, começaram a dar as badaladas da meia-noite e enquanto se levantavam rapidamente para beber o champanhe e comer as passas, porque há que manter as tradições, formou-se, de uma forma cristalina, na sua cabeça qual iria ser a decisão de ano novo.
E por isso, quando soaram as 12 badaladas e ele a beijou e perguntou, a cair de bêbado, o que ela tinha desejado para o novo ano, ela só lhe respondeu:
- O que desejo, vou obter desde já. Está tudo acabado entre nós!
E virando as costas, foi-se embora, sem voltar a olhar para trás, com o coração pesado, mas a alma leve por ter tomado a decisão que adiara tanto tempo!
1 comentário:
Boa Tarde
Que historia, é por isso que não bebo alcool, estraga uma vida de felicidade e amor.
Tocante.
Amizade
LUIS 14
Enviar um comentário