domingo, 7 de setembro de 2008

Amores e Desamores - 1

- Amo-te - dizia aquele sms que ele lhe enviou à noite, altas horas da madrugada, no dia do seu aniversário.
Derreteu-lhe o coração e a alma, até porque era a primeira vez que o dizia, mas não se deu por vencida e, como a vontade de picar é mais forte do que ela respondeu:
- Vê-se mesmo que estás com os copos.
E virando-se para o lado adormeceu, sozinha, sem a sua presença, os seus braços e o seu cheiro para a embalar.
No dia seguinte falaram pela Internet, único meio de alimentarem aquele amor, atendendo à distância que os separa.
Como ele não se descosia, ele teve de o espicaçar e dizer-lhe que ele tinha aproveitado bem a festa de anos para apanhar uma grande bebedeira.
- Bebi uns copos, mas não me embebedei, nem perto disso! Porque dizes isso?
- Por causa da tua mensagem de ontem à noite – diz ela sem se descoser...
- Qual? A que te dizia que te amo? - diz ele com um pequeno emoticon divertido
- Essa mesmo!
- Não estava com os copos, mas se o problema é esse, posso dizer-te agora o mesmo, que te amo!
E aí... ela ficou sem reacção e todos os seus fantasmas, dúvidas e “traumas” entraram em conflito.
Por um lado ela sentia que amava de todo o seu coração aquele homem grande, com uma elegância desengonçada e com um coração enorme preso num corpo com olhos tristes.
Por outro, o que seria que ele amava?
A ela, como pessoa?
Ou seria que amava o facto de ter com quem falar, quem o ajudasse e apoiasse e então em vez de ser amor era um sentimento de dívida e de gratidão aquilo que o levava a proferir tal palavra, sagrada na linguagem dos amantes.
E então, antes mesmo de poder raciocinar claramente, a tempestade desencadeou-se
- Sabes o que significa a palavra para mim para a estares a dizer assim?
- Claro que sei, senão não a utilizava! - responde ele.
Mas ela não se deva por vencida, ainda não chegava
- Mas como podes dizer que me amas se nem me conheces? Ao fim deste tempo todo ainda nem sabes o meu nome, não sabes nada de mim?
- Sei como és, o que fazes, que estás sempre presente e a apoiar-me e basta para saber que te amo!
Qualquer pessoa dita “normal” estaria feliz com esta resposta, mas a ela não lhe bastava, era um amor demasiado difícil e complexo de assumir para que lhe bastasse isso.
E ela sabia que era sempre a mesma coisa, o querer mais e mais, sentir -se amada por si e não por um sentimento de gratidão em relação ao que faz pelos outros, precisar de "provas" que era uma das prioridades da vida de quem estava com ela, por mais complexa que fosse.
- E o que tu fazes por mim? E quando estás tu presente para mim? O que sabes tu de mim?
Escrevia estas palavras e pensava no quão injusta estava a ser com ele, pois se o papel dela era ingrato e não era justo, o dele não o era menos.
A dor dele sentiu-se nas palavras que ele escreveu a seguir... mas apesar do sentimento de culpa, o “monstro” que se apodera dela nestas alturas não desistia, pois só conseguia pensar que precisava dele e ele não estava, não pensando que ele não sabia nada dela tanto por culpa dele, que nunca quis saber, como por culpa dela, que nunca partilhou nada.
- Não me podes amar, ou não sabes o que é amar. O que sabes de mim? O que sou, o que quero, como estou? Só sabes que gostas de mim porque me preocupo contigo e te ajudo, mas isso não é amar! Para se amar há que conhecer a outra pessoa, senão não podes dizer que amas!
E aí ele conseguiu cair no isco, na armadilha que o monstro dentro dela preparara e... “afogou-se” com a pior coisa que poderia dizer naquele momento:
- Tens razão, não sei nada de ti e se calhar não te amo.
Foi tudo o que o monstro precisava para desaparecer e deixar a dor de ouvir aquelas palavras, que se tinham procurado, pescado com arte, mas que não se queriam ouvir.
Não há nada pior para matar um monstro que cria a discórdia, fomenta as tempestades internas e o caos entre a mente e o coração do que ... dar-lhe razão!
- Se calhar não sei o que é amar, ou não sei o que entendes por amar. Tenho de pensar nisso e equacionar o que sinto! - completa ele.
Estas palavras, consequência de todo o diálogo que tinham estado a desenvolver e que aqui não se reproduziu por inteiro por ser de foro íntimo dos dois amantes, destruíram todas as ilusões dela.
Como pode um homem dizer que ama uma mulher para depois sucumbir nas sementes da dúvida que ela própria ardilosamente atirara?
Porque é que ela não consegue aproveitar aqueles momentos de felicidade, aquela declaração de amor tão pura e sincera e precisava de ir provocar a confusão que só serve para a destruir a ela.
Todas estas questões ecoaram na sua cabeça a partir do momento em que leu aquelas palavras e adormeceu o monstro que guiara até ao momento os seus dedos através do teclado do computador.
Mas nem isso a travava, parecia guiada por uma força demoníaca que estava apostada em destruir qualquer sentimento que existisse.
- Bem, se não sabes o que sentes, não vou ser eu a dizer-te. Mas não se deve nunca dizer a uma pessoa que é amada para a seguir se dizer que não se sabe. Aconselho-te a que penses muito bem da próxima vez que usares esse termo – diz-lhe ela, ferida no seu amor-próprio, despeitada, triste.
E sabendo que quem tinha provocado tudo isso tinha sido ela e as suas questões, dúvidas, medos e inseguranças, retirou-se e desligou, para mais uma noite de insónia e solidão.
Porque será que não consegue aceitar um amor simples e sincero?
Terá sido tão magoada, tão enganada que não consegue acreditar que possa ser amada?
Ou será porque a situação é tão complicada, a nível pessoal, profissional e amoroso, que precisa de mais apoio, confiança, provas de amor do que as pessoas que vivem uma relação dita “normal”?
Porque tem de aparecer aquele “monstro” a lançar a dúvida e a insegurança em vez de aproveitar os momentos e gozar a vida?
Porque tem de querer sempre mais e mais?
Pior ainda, porque acha que o facto de se dar tem de significar que os outros vão dar de volta?
Todas estas perguntas a atormentam enquanto se enrola no sofá do quarto, pensando como se pode amar um homem e procurar sabotar qualquer sentimento que ele possa ter por ela, analisando ao detalhe o que ele sente e porquê, procurando e apontando todas as falhas em vez de realçar as qualidades!!!

2 comentários:

Anónimo disse...

Uau! Estou mesmo surpreendido, já vi livros mais mal escritos. Óptimo post, continua assim.
Beijo.

O QUATORZE disse...

Boa Tarde
Um dia de inspiração para o blog
Parabens.
Amizade
Luis

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