Levantou-se cedo, tomou um rápido duche e vestiu-se rapidamente, a fim de sair cedo e evitar as filas de trânsito que sempre se formavam nas manhãs.
Desta forma conseguia chegar cedo ao trabalho e ainda ter tempo para preparar algumas coisas antes da sua reunião.
Não conseguiu evitar que um sorriso lhe aflorasse aos lábios ao ligar o rádio e ouvir a música que passava... Rui Veloso cantava, com o seu sotaque do Porto:
"mas tu não ficaste nem meia hora
não fizeste um esforço pra gostar e foste embora
contigo aprendi uma grande lição
não se ama alguém que não ouve a mesma canção"
E aquelas palavras, que desde a véspera não lhe saiam da cabeça, regressaram, como martelos:
"Não te disse nada porque tive medo...."
Revira e repensara naquela conversa milhares de vezes na sua cabeça, durante aquela noite mal dormida, e voltava sempre a estas palavras...
Medo???
Medo de quê? De quem?
Relembrou conversas antigas, com amigos e ex-namorados, em que lhe tinham dito que intimidava as pessoas (especificamente homens) com a sua energia e "independência"...
Sabia que tinha um espírito forte, que transmitia energia e era muito intensa nas suas emoções, mas achava que tinha a relação perfeita, que tinha encontrado quem a compreendia, a aceitava, com quem podia falar de tudo...
E vinham aquelas palavras, sempre aquelas palavras...
"Não te disse nada porque tive medo...."
Será que "ouviam a mesma canção"?
Será que era assim tão má pessoa?
Tão insensível na relação que causasse medo ao companheiro?
Medo de quê?... que lhe batesse?
O pensamento fez com que risse perdidamente.... não só porque nunca tinha batido em ninguém, mas igualmente porque tinha metade do tamanho dele e era algo que nunca sequer lhe passaria pela cabeça.
Sorriu ao pensar nas palavras da mãe e da avó... "Quem tem medo compra um cão"!
Mas o seu cérebro rapidamente regressou ao "assunto" e tentou pensar na forma de reagir.
Como poderia ficar com uma pessoa que tinha medo de falar com ela?
É possível assumir uma relação em que uma das partes receia falar com a outra?
Sabia que era demasiado honesta, demasiado directa, demasiado intensa e isso sempre lhe tinha trazido alguns dissabores, tanto na sua vida pessoal como na profissional (nunca fora pessoa de meias-palavras).
Era uma realidade que explodia com as coisas de que não gostava ou que não lhe agradavam, mas sempre pensara que era uma das partes boas da relação actual...
Mesmo com as explosões, com o seu mau-feitio, sempre tinham falado de tudo e sempre acabavam por resolver qualquer assunto que surgia entre os dois.
Nunca tivera feitio para ficar calada perante as coisas que não gostava ou com que não concordava.
Detestava ser a mulherzinha calada e submissa que não diz nada para que tudo corra bem.
Sempre achara que era melhor debater tudo do que ir acumulando, mas de repente apercebia-se que isso causava medo ao seu companheiro.
E pensava desde quando durava isso, esse medo de falar com ela, de lhe contar as coisas...
Pensava em como ela o conhecia bem, mas no pouco que ele efectivamente parecia saber dela...
Distraidamente ia conduzindo e de repente apercebeu-se que o seu "piloto automático" já a tinha levado até à porta do trabalho.
Cumprimentou o segurança à entrada, as pessoas com quem se ia cruzando e tentou desviar os pensamentos daquelas palavras e concentrar-se na preparação da reunião, que era importante e sabia que precisava de estar no seu melhor, para conseguir responder às questões que seguramente seriam colocadas.
E, durante uns breves momentos, ainda conseguiu...
Mas uma mensagem dele a pedir para falar com ela distraiu-a do trabalho e as palavras voltaram...
"Não te disse nada porque tive medo...."
Não respondeu, precisava de tempo para processar tudo, e acima de tudo para se concentrar no trabalho que tinha pela frente.
Mas os pensamentos divagaram de novo... parecia impossível concentrar-se em alguma outra coisa que não fossem aquelas palavras...
E se juntasse a isso a reacção, de desaparecer sem dizer nada.... ficava sem saber como reagir, o que pensar.
Muita coisa a magoara no passado, tanto na actual relação como nas anteriores, mas sempre conseguira falar e resolver tudo. Sempre evitara pensar no passado (afinal, era passado, para quê remoer), mas como falar com alguém que tinha medo dela, de falar com ela, de lhe contar tudo?
Nunca duvidara dos seus sentimentos por ela, nem dos que nutria por ele, mas será que podia confiar naquela relação?
Será que realmente partilhavam tudo ou só aquilo que ele não tinha medo de partilhar com ela?
Será que era um sentimento real ou apenas o medo da reacção dela?
Era uma pessoa assim tão assustadora?
Chegou o momento da reunião e forçou-se a colocar estes pensamentos de lado e a concentrar-se na apresentação.
Conseguiu focar-se na apresentação e no seu "publico" e fez uma exibição brilhante (modéstia à parte), convencendo todos os presentes da importância da acção a desenvolver.
Quando regressou à sua secretária encontrou nova mensagem dele, pedindo desculpa pelo comportamento da noite anterior e garantindo o seu amor.
Tentou acalmar os pensamentos, colocou "aquelas" palavrinhas que tanto a magoavam num canto do coração e esperou pela noite para falarem tranquilamente.
Sabia que o amava (nem percebia bem porquê, mas devia ser isso o amor), sabia que provavelmente iam superar aquilo e que iria esquecer....
Mas sabia igualmente que aquelas palavras tinham aberto uma ferida no seu coração que muito dificilmente iria sarar...
Não conseguiu evitar que um sorriso lhe aflorasse aos lábios ao ligar o rádio e ouvir a música que passava... Rui Veloso cantava, com o seu sotaque do Porto:
"mas tu não ficaste nem meia hora
não fizeste um esforço pra gostar e foste embora
contigo aprendi uma grande lição
não se ama alguém que não ouve a mesma canção"
E aquelas palavras, que desde a véspera não lhe saiam da cabeça, regressaram, como martelos:
"Não te disse nada porque tive medo...."
Revira e repensara naquela conversa milhares de vezes na sua cabeça, durante aquela noite mal dormida, e voltava sempre a estas palavras...
Medo???
Medo de quê? De quem?
Relembrou conversas antigas, com amigos e ex-namorados, em que lhe tinham dito que intimidava as pessoas (especificamente homens) com a sua energia e "independência"...
Sabia que tinha um espírito forte, que transmitia energia e era muito intensa nas suas emoções, mas achava que tinha a relação perfeita, que tinha encontrado quem a compreendia, a aceitava, com quem podia falar de tudo...
E vinham aquelas palavras, sempre aquelas palavras...
"Não te disse nada porque tive medo...."
Será que "ouviam a mesma canção"?
Será que era assim tão má pessoa?
Tão insensível na relação que causasse medo ao companheiro?
Medo de quê?... que lhe batesse?
O pensamento fez com que risse perdidamente.... não só porque nunca tinha batido em ninguém, mas igualmente porque tinha metade do tamanho dele e era algo que nunca sequer lhe passaria pela cabeça.
Sorriu ao pensar nas palavras da mãe e da avó... "Quem tem medo compra um cão"!
Mas o seu cérebro rapidamente regressou ao "assunto" e tentou pensar na forma de reagir.
Como poderia ficar com uma pessoa que tinha medo de falar com ela?
É possível assumir uma relação em que uma das partes receia falar com a outra?
Sabia que era demasiado honesta, demasiado directa, demasiado intensa e isso sempre lhe tinha trazido alguns dissabores, tanto na sua vida pessoal como na profissional (nunca fora pessoa de meias-palavras).
Era uma realidade que explodia com as coisas de que não gostava ou que não lhe agradavam, mas sempre pensara que era uma das partes boas da relação actual...
Mesmo com as explosões, com o seu mau-feitio, sempre tinham falado de tudo e sempre acabavam por resolver qualquer assunto que surgia entre os dois.
Nunca tivera feitio para ficar calada perante as coisas que não gostava ou com que não concordava.
Detestava ser a mulherzinha calada e submissa que não diz nada para que tudo corra bem.
Sempre achara que era melhor debater tudo do que ir acumulando, mas de repente apercebia-se que isso causava medo ao seu companheiro.
E pensava desde quando durava isso, esse medo de falar com ela, de lhe contar as coisas...
Pensava em como ela o conhecia bem, mas no pouco que ele efectivamente parecia saber dela...
Distraidamente ia conduzindo e de repente apercebeu-se que o seu "piloto automático" já a tinha levado até à porta do trabalho.
Cumprimentou o segurança à entrada, as pessoas com quem se ia cruzando e tentou desviar os pensamentos daquelas palavras e concentrar-se na preparação da reunião, que era importante e sabia que precisava de estar no seu melhor, para conseguir responder às questões que seguramente seriam colocadas.
E, durante uns breves momentos, ainda conseguiu...
Mas uma mensagem dele a pedir para falar com ela distraiu-a do trabalho e as palavras voltaram...
"Não te disse nada porque tive medo...."
Não respondeu, precisava de tempo para processar tudo, e acima de tudo para se concentrar no trabalho que tinha pela frente.
Mas os pensamentos divagaram de novo... parecia impossível concentrar-se em alguma outra coisa que não fossem aquelas palavras...
E se juntasse a isso a reacção, de desaparecer sem dizer nada.... ficava sem saber como reagir, o que pensar.
Muita coisa a magoara no passado, tanto na actual relação como nas anteriores, mas sempre conseguira falar e resolver tudo. Sempre evitara pensar no passado (afinal, era passado, para quê remoer), mas como falar com alguém que tinha medo dela, de falar com ela, de lhe contar tudo?
Nunca duvidara dos seus sentimentos por ela, nem dos que nutria por ele, mas será que podia confiar naquela relação?
Será que realmente partilhavam tudo ou só aquilo que ele não tinha medo de partilhar com ela?
Será que era um sentimento real ou apenas o medo da reacção dela?
Era uma pessoa assim tão assustadora?
Chegou o momento da reunião e forçou-se a colocar estes pensamentos de lado e a concentrar-se na apresentação.
Conseguiu focar-se na apresentação e no seu "publico" e fez uma exibição brilhante (modéstia à parte), convencendo todos os presentes da importância da acção a desenvolver.
Quando regressou à sua secretária encontrou nova mensagem dele, pedindo desculpa pelo comportamento da noite anterior e garantindo o seu amor.
Tentou acalmar os pensamentos, colocou "aquelas" palavrinhas que tanto a magoavam num canto do coração e esperou pela noite para falarem tranquilamente.
Sabia que o amava (nem percebia bem porquê, mas devia ser isso o amor), sabia que provavelmente iam superar aquilo e que iria esquecer....
Mas sabia igualmente que aquelas palavras tinham aberto uma ferida no seu coração que muito dificilmente iria sarar...
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