sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Para onde vai o tempo?

Hoje recebi o telefonema de uma querida amiga que há muito tempo não vejo.
É verdade que fui eu que me afastei, mas a verdade é que o contacto pontual que mantemos me parece sempre pouco e sinto falta dos tempos em que passeávamos e falávamos de tudo e de nada.
Estivemos bastante tempo a colocar a conversa "em dia" e depois estive a ler alguns dos últimos trabalhos dela.
Confesso que senti(sinto) inveja.
Não será inveja dos textos em si, mas sim do acto de escrever, desta paixão por colocar (tinha escrito "meter", mas não se mete nada no papel.... ai este "pretuguês" que está cada dia pior) no papel o que nos rodeia e o que vivemos.
Digo e repito que adoro escrever e é para mim uma enorme forma de terapia, mas sempre me faltou a disciplina para o fazer regularmente.
Desde criança que me oferecem diários, mas ao contrário dela, que há 28 anos colecciona os dela e vai registando diariamente os seus pensamentos e vivências, eu nunca consegui escrever nos meus para além de alguns dias, pontualmente semanas e muito raramente meses.
Mesmo o blog, uma tentativa de ter uma "espécie" de diário, denota esta falta de disciplina, esta inconstância que me caracteriza - um dia faço, dez dias não.
E ao ver o carinho que ela tem pelos seus diários, ao ver os seus textos, ao ver a paixão que é para ela ler e escrever, não posso deixar de sentir uma pontada de inveja, por não conseguir ter esse espírito, essa disciplina.
Invejo-a quando diz que não consegue sair de casa sem um livro para ler, o seu caderno e uma caneta onde vai escrevendo o que lhe apetece.
Invejo quando diz que ela vai escrevendo o livro da sua vida aos bocadinhos, dia a dia, e acima de tudo invejo o prazer que sente quando relê todas estas pequenas notas.
Milhares de vezes durante o dia (e a noite) as ideias e as palavras atropelam-se na minha cabeça, lutando para sair, seja oralmente seja através da escrita - mas não consigo levantar-me, parar o que estou a fazer e escrever.
Verdade seja dita, a maioria das vezes é quando estou a conduzir ou em alguma situação sozinha, em que não tenho com quem partilhar.
Mas mesmo nestas situações, em que não tenho possibilidade de escrever, penso - vou gravar!
E não consigo. As palavras não saem.
Penso em dizer tudo o que estou a sentir, a pensar, mas só o facto de pensar em abrir a boca e dizer... bloqueia-me. Fico muda, sem voz.
São palavras, mas não são para ser ditas, são para ser sentidas e passadas ao papel.
Criticam-me muitas vezes por não falar, não dizer o que penso ou sinto e em vez disso escrever - mas a verdade é que cada vez mais me apercebo que detesto falar e prefiro escrever (menos emoção e mais directo), mas sinto que não consigo escrever o que quero, como quero, quando quero.
Será que é porque me quero "obrigar" a escrever e nunca consegui fazer nada por obrigação?
Porque é que adoro escrever, mas consigo ocupar o dia, a cabeça, os dedos, a mente, com milhares de pequenas coisas sem importância e não consigo encontrar um momento para escrever?
Porque será que adorava ser como a minha madrinha, como esta minha amiga, cheias de atenções e carinhos para quem os rodeia, escrevendo os seus textos, cartões nos aniversários e épocas festivas, pequenas notas cheias de atenção e carinho... mas por mais que tente não o consigo?
Invejo a clareza dos textos dela, o sentimento e a poesia das palavras da minha madrinha, a intelectualidade dos textos do meu tio, a ciência nos da minha irmã... mas não consigo!
Não consigo pensar em sentar-me e escrever (mesmo quando quase me apetece gritar com as ideias que insistem em me "atormentar"), não consigo ser clara, sintética e resumida, não consigo ter poesia, ser rebuscada... só consigo ser incoerente, divagar, deambular de ideia em ideia sem fio condutor.
E invejo... porque quero crescer e ser assim.
Quero ser como ela(s).
Mas parece que as horas desaparecem, que há sempre algo "mais importante" para fazer, que o tempo não chega para tudo.
E de repente apercebo-me que as horas se escoaram, os dias passaram, meses... e nem consegui escrever, nem consegui estar com as pessoas que são importantes, nem consegui fazer aquilo que queria/devia/esperava.
Como se consegue fazer tudo e ainda ter tempo e paixão para escrever?
Como é que antes conseguia trabalhar em 2 e 3 sitios ao mesmo tempo e agora, que tenho tempo livre, parece que as horas e minutos se escoam e não consigo fazer nada?
Porque agarro no computador e passo o tempo a trabalhar, sem sentir que estou a produzir, sem sentir que estou a fazer algo útil, sem conseguir escrever?
Para onde vai o tempo do meu dia?
Da minha vida?
Para onde vai o tempo que me impede de estar com os amigos, escrever, e fazer aquilo de que realmente gosto e realmente me importa?
imagem: gettyimages

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