sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Traição - esse "papão"

Quantos de nós afirmamos que seriamos incapazes de trair alguém, de trair um amor... e no entanto estamos constantemente a cometer traição!!!
Quando falamos em traição, associamos imediatamente à imagem de um elemento de um casal (cônjuges, namorados, ...) que vai para a cama ou tem relações com outra pessoa (do mesmo sexo ou de sexo oposto, que há que ser coerente com os tempos que correm).
Mas a verdade é que, se calhar, este tipo de traição é o mais inofensivo, a menor das traições.
Quem nunca "traiu" um amigo?
Nunca mentiu, nunca enganou alguém que estava próximo?
Não estou a dizer que o faça conscientemente ou com o intuito de trair, mas será que ao mentirmos, ao escondermos factos e segredos, ao enganarmos as pessoas que nos estão próximas, não estamos a cometer uma enorme traição?
Estamos a trair a confiança delas, das pessoas que nos amam como somos e que não acreditam que sejamos capazes de cometer tal acto.
Quando se engana o parceiro (ou parceira), mais do que falar de aspectos sexuais há que aceitar que a traição começa quando deixamos de nos identificar com aquela pessoa a ponto de procurar algo fora da relação (amor, sexo ou apenas amizade).
A traição sexual é o alimentar de um desejo físico e em nada se pode comparar à traição emocional de encontrarmos fora da relação uma pessoa com quem partilhar o que nos vai na alma, com quem partilhar os bons momentos e os problemas que não conseguimos resolver na nossa vida pessoal e/ou profissional - uma pessoa com quem falar e que nos dá a atenção que não sentimos na relação pessoal em que nos encontramos.
Ao falar com um amigo hoje ele colocou o dedo na ferida - a pior traição que existe é a que cometemos connosco mesmos (adoro a tautologia...)!
Porque quando estamos a trair alguém, seja um amigo, um amante, um familiar, um simples conhecido ou um colega de trabalho, a primeira pessoa que estamos a trair é a nós próprios.
Estamos a trair os nossos valores, as nossas ideias e/ou ideais.
E o pior de tudo é que na maior parte das vezes nem nos apercebemos da profundidade da nossa acção.
Quando mentimos, enganamos ou somos "infiéis", pensamos que estamos a mentir aos outros, mas estamos a mentir em primeiro lugar a nós próprios, dizendo que não faz mal, que não tem consequências, que o que ninguém sabe não lhes faz mal, que é pontual, que é sem importância, que estamos a controlar, etc.
Quando atraiçoamos a confiança que em nós depositaram, estamos a atraiçoar em primeiro lugar a confiança que nós tínhamos em nós mesmos, os nossos valores.
Não vale a pena andarmos a enganar-nos... a traição é um vírus e dos piores e quando se instala no nosso coração, quando se entra "nesse barco", é preciso coragem e energia para sair.
E há pessoa que nele passam toda a vida.
Muitas vezes pensam que não são "infiéis" com os outros (amigos, amantes, esposos), porque não os enganam fisicamente, mas são infiéis a eles mesmos durante toda a vida, mentindo-se e iludindo-se toda a vida como uma forma de escapar à realidade.
Pois não é a traição uma forma de fugir à realidade?
Se temos de mentir, de enganar, de procurar fora da situação que vivemos, não estamos a usar essas mentiras ou momentos para nos enganarmos acerca da realidade que vivemos (num momento ou numa vida)?!
Toda a gente diz que não gostaria de ser traída e que não poderia trair, mas mais uma vez estão a limitar-se ao pensamento físico, corporal. E ainda por cima estão a ser egoístas.
Pois quem trai (seja o próprio seja um amigo ou familiar) fá-lo por alguma razão, seja intrínseca, seja devido às circunstâncias que se encontra a viver.
Será que condenar essa traição não é uma forma de nos iludirmos (trairmos a nós mesmos) por não termos conseguido criar as condições para que essa traição não aparecesse?
Quem nunca traiu não tem razões para temer ser traído, pois não vive em função disso.
Então porque todos temos medo de ser traídos?
Porque nunca pensamos nas nossas traições pessoais, contra nós?

Porque estamos sempre prontos a julgar e condenar os outros em vez de olharmos para dentro de nós?

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