segunda-feira, 28 de julho de 2008

Família

Este é um assunto sobre o qual poderia passar horas, dias, meses a escrever e nunca esgotaria o tema.
Desde que comecei a "escrever" que quero falar dele, mas as coisas vão-se sobrepondo e vou adiando, adiando.
Mesmo agora, tenho 10 outras coisas sobre as quais gostava de falar, quem sabe mais divertidas ou interessantes... mas a família será o tema aqui.

Ligando com o post recente sobre amizade e amigos, lembrei-me de duas frases:
  • Os amigos são a família que escolhemos.
  • A família não se escolhe, mas os amigos sim!
Porque escolhemos os amigos e não escolhemos a família?
Porque perdoamos coisas aos amigos que não perdoamos à família, e vice-versa?

Vou falar hoje sobre a segunda frase, pois... não me parece que seja literalmente assim!
É verdade que não podemos escolher os nossos pais/filhos (excepto quando estamos no sistema de adopção ou em casos muito excepcionais), nem irmãos, nem tios - a família directa.
Mas podemos escolher a NOSSA família!
Podemos escolher o nosso marido/esposa!
E através dessa nossa escolha vamos determinar a escolha dos nossos filhos e de como vamos viver a nossa vida no futuro e o nosso relacionamento como família.

E aqui começa a minha "confusão"... dúvida existencial... nem sei como chamar.
Sei que já falei de amor, já falei da facilidade com que hoje em dia as pessoas casam e descasam e não lutam pela sua relação... mas onde fica o limite?
Onde devemos dizer - já lutei o suficiente, agora quero lutar para ser feliz?

Eu venho de uma família "quase moderna"!
Porquê o "quase moderna"?
Porque os meus pais adoravam os filhos (depois da morte do meu irmão as filhas) e optaram por viver juntos e infelizes "para bem das filhas" em vez de se separarem e serem felizes.
E como eles inúmeros casais que conheço vivem assim, dentro da minha própria família e entre os meus amigos.
Muita gente prefere ser infeliz e achar que assim os filhos serão felizes porque tem os pais juntos do que perceber que as crianças, mais cedo ou mais tarde se vão aperceber que os pais estão juntos, mas a "felicidade conjugal" é uma miragem.

Admiro e respeito as pessoas que sacrificam a sua própria felicidade em prol da dos filhos e da dos outros!
Admiro as pessoas que acreditam que o casamento é para toda a vida, por mais infeliz que sejam dentro dele.
Admiro as pessoas que lutam para manter uma fachada para os filhos...
Mas será que não percebem que assim só vão tornar os filhos mais tristes ainda?!

O meu pai sempre achou que no caso de se separar ou divorciar iria "perder" as filhas!
Mas correu um risco muito maior (e quem sabe foi pior) ficando casado por causa delas, pois a realidade é que se percebia a frustração, a infelicidade, a preferência por estar fora de casa... e isso causou dores e feridas quase irremediáveis.
E se as coisas começam mal, se continuam mal... vale assim tanto a pena lutar por elas? Pelo conceito de casamento "feliz" para as crianças?

Até que ponto a ideia de que a separação ou divórcio é dolorosa para as crianças, que implica afastamento e distância dos filhos para um dos conjugues, está errada?
Até que ponto uma separação amigável e visitar regulares não é muito mais positivo que uma vida em conjunto e em permanente confronto ou ansiedade ou frustração.

Pessoalmente sei que, no meu caso, teria preferido que os meus pais se tivessem separado muito mais cedo e mantido uma boa relação do que terem estado juntos a "sugarem" as energias um do outro e a entrarem em confronto permanente (aquele clima de tensão que se sente, como nos filmes de suspense).
Não sei explicar a tristeza que sinto quando me deparo com casais assim, que vivem como eles viveram, como tantos outros vivem...
Ambos os pais a adorarem os filhos, ambos a quererem o melhor para eles (filhos) esquecendo-se que eles próprios e as suas emoções e sentimentos fazem parte desse processo de crescimento.
Aqui tenho de admirar o meu ex, pois apesar de um divórcio penoso e de tudo o que a isso levou, conseguiu criar um sistema em que as crianças estão na vida dos dois, passando tempo com ambos, repartindo os fins de semana pela casa de cada um dos pais, as férias pelos 2 e inclusive passando 2 dias por semana em casa dele.
Os filhos estão felizes, conseguiram superar a separação dos pais porque os conseguem ver muito mais felizes separados que quando estavam juntos e eles próprios admitem que embora tendo sido difícil a separação, para eles a situação actual é muito mais satisfatória e se sentem mais felizes e tranquilos que quando os pais estavam juntos.

Daí novamente a dúvida - vale a pena lutar por ter uma família só por dizer que se tem uma família?
Vale a pena abdicar de tudo o que se gosta, quer, ama, para ter a família que "escolhemos"?
Ou será que se pode admitir que a dada altura é mais acertado admitir que se fez a escolha errada e procurar ser feliz?
A família fica sempre. Os filhos ficam sempre. A presença dos pais fica sempre.
Para mim e para muitas das crianças com quem convivi e para muitos dos meus amigos, desde sempre, um pai (usando o termo no seu sentido mais lacto) presente não é o que está comigo todos os dias, nem o que me dá presentes, nem ....
Um pai presente é um pai que está feliz com o seu conjugue, que se interessa pelo que eu faço e pela minha vida, com quem falo todos os dias (nem que seja por telefone, mail, etc) e que me apoia e incentiva nas minhas decisões e acções.
É um pai que é capaz de me mostrar que na vida se erra (e no Amor é tão difícil acertar...) e que se pode admitir os erros e arranjar soluções.

Falando de família sabemos que as nossas acções vão sempre magoar alguém e que quando se constitui família tudo o resto deixa de ser importante.
Mas há que pensar que família não significa prisão, não significa uma eternidade de infelicidade e ansiedade pautada por momentos de felicidade.
Família devia ser felicidade, apoio, compreensão, carinho, partilha, união, equilíbrio, paz!
Família devia ser uma eternidade de felicidade pautada por momentos mais tensos, mas sanados com amor e compreensão.
Família devia ser um oásis no meio da vida diária, uma partilha de sentimentos, percursos, objectivos e coroada com os filhos.
Não devia ser abdicar da identidade em prol dos filhos!

Assumo que é fácil falar pois não tenho filhos... mas sou filha, trabalhei muito com crianças, convivo diariamente com crianças e com outros filhos e filhas, quase fui "madrasta" por duas vezes e por isso consigo (acho eu) expressar a opinião do ponto de vista dos filhos.
E os filhos que digam que preferem ver os pais juntos e infelizes a separados e felizes... é porque tiveram uma educação egoísta e só pensam neles!
Qualquer filho que ame os seus pais e a sua família pensará na felicidade de todos e não nos seus valores egoístas.
Claro que numa primeira fase os filhos preferem sempre que os pais estejam juntos, mas quando compreendem a mais valia de terem pais felizes... aceitam sempre melhor que se espera.

Depois de toda esta divagação em prol de pais separados e felizes a juntos e infelizes gostava de ressaltar uma coisa - penso e acredito que as famílias e mais concretamente os casais devem lutar pelo seu amor!
Se casaram (ou "amigaram") foi porque se amavam e acreditavam estar juntos para sempre.
Foi porque acharam que tinham encontrado a sua "alma-gémea", a pessoa que os completava.
Até porque não acredito que nos dia de hoje ainda haja pessoas que se casam por casar, para terem alguém, por obrigação, etc...
E por isso também acho que não devem nem podem desistir à primeira dificuldade, â primeira pedra no sapato.
Devem lutar pelo seu amor, devem comunicar, devem partilhar os sucessos e dificuldade e acima de tudo a vida a dois, sem colocar num dos elementos a responsabilidade do casal ou do sucesso da relação.

Acredito na vida a dois (ou a 3 ou a 4, 5... depende do "aumento" da família posterior), acredito em envelhecer e passear de mão dada quando os filhos saírem de casa - mas acima de tudo acredito em famílias felizes e casais felizes e equilibrados!
Por isso, olhem bem para dentro de casa e analisem a vossa família.
É aquilo que escolheram?
Ou é aquilo a que se acomodaram ou cederam em prol de um conceito antiquado de "família" ou dos filhos?
Acham que vão ser felizes daqui a 20 anos com aquele marido/esposa?
Acham que os vossos filhos serão felizes e equilibrados e vão sonhar ter uma família como a dos pais?

Eu sei que a família que ainda espero um dia ter não será como a dos meus pais, tios, primos, alguns casais amigos, ex-namorados, etc.
Sei que a família que eu quero ter será uma FAMÍLIA, com um casal unido em todos os sentidos e que se complementará nos seus aspectos menos positivos.
Sei que será uma família em que aos 40, 50, ..., 80 anos vou passear à beira-mar de mão dada ou abraçada ao meu "marido", com sorte com os meus netos(as) a invejarem o casal que somos.
Mas será a família que vou escolher.
E contentar-me com menos que isso... passo!!!

Sem comentários:

Related Posts with Thumbnails