sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Amor e amar

Muita gente me tem perguntado porque tinha uma imagem com um coração partido no messenger e a indicação "Fechado para Balanço".
Substituí por esta, que adoro e que, para mim, vale mil palavras.
Voltando à pergunta inicial que me fazem, porque "fechei" o coração?
Acho que nunca ninguém "fecha" verdadeiramente o coração a nada nem a ninguém, mas por vezes é necessário fazer uma pausa, uma reflexão e para mim chegou esse momento, esse ponto.
Chegou a altura de lidar verdadeiramente com a dor e a ferida causada pela minha separação.
Chegou o momento de analisar os sentimentos há muito enterrados, os que teimam em aparecer, os que não deixo aparecerem, os que gostavam de poder aparecer, os que tem uma possibilidade de virem a aparecer, etc.
Ontem disseram-me que o coração serve só para fazer passar sangue e que a cabeça é que realmente precisa de ser limpa.
Não sei se será bem assim - é muito racional para quem é mais emocional e tem a alma (leia-se coração) ao pé da boca como eu.
Mas neste balanço que teimo em fazer, nesta introspecção confusa dos últimos dias, uma coisa salta - o problema pode nem ser o coração mas sim a auto-estima, ou a falta dela.
Porquê?
Quando estava bem e "feliz", com o trabalho e a vida organizada, tinha mais quase 20kg.
E estando bem com os meus amigos e tendo um relativo sucesso com o sexo oposto, não tinha metade da atenção ou das solicitações com que me deparo nos dias que correm.
Uma coisa eu sabia nessa altura - quem estava comigo era por mim, a complexa, neurótica, divertida, problemática, orgulhosa, ocupada, louca pessoa.
Hoje em dia... sinto-me bem melhor, com bastante menos peso físico mas com um peso no coração muito maior, pois não consigo avaliar quem está comigo por mim ou quem está pela aparência exterior, pela embalagem.
Não me engano nem vou enganar ninguém, nunca fui feia (nem mesmo quando tinha peso a mais - até porque há gostos para tudo), mas também nunca fui nem sou particularmente bonita. Interessante, simpática (hahaha) mas nada de especial ou que faça virar cabeças.
Então o que atrai tanto as pessoas hoje que não as atraía há 6 meses?
Esse é o primeiro ponto em análise e debate no meu coração/cabeça, pois mesmo se o coração acredita em tudo o que lhe querem fazer crer (santa ingenuidade que não há meio de desaparecer), a cabeça tem aquela irritante tendência de racionalizar as coisas.
Depois há aquela dicotomia que acontece muitas vezes a muita gente, que é a diferença entre as palavras ditas e as acções realizadas, especialmente das pessoas que estão à nossa volta e/ou dizem gostar de nós.
Sendo uma pessoa "carente" (sim, sim, a aparência é de quem não liga a isso e de quem faz as coisas por si e não pelo que os outros dizem, ou que não precisa de estar a ouvir palavras doces pois é muito independente), sempre pensei que gostava de ouvir as palavras meigas de quem diz gostar de mim ou mesmo se diz "apaixonado" por mim.
Mas hoje em dia dou por mim a pensar no quão ocas e vazias são as palavras quando não são acompanhadas por acções.
Ou de quão insignificantes podem ser as acções se de vez em quando não tiverem continuação nas palavras...
Uma acção vale mil palavras, mas uma palavra... pode ir com o vento tão rapidamente...
Podemos ouvir dizer mil vezes que nos amam, que gostam de nós, a moderna versão que não é carne nem peixe do "adoro-te" (mas admitam que "amo-te" é um bocado piroso em português), mas depois a verdade vem sempre ao cima com as acções (e tive a prova disso em Março, com o homem que me disse na véspera que tudo o que queria no mundo era que eu fosse feliz e no dia a seguir acabou tudo).
De que serve dizer que gostam de alguém se depois não contactam com a pessoa, não partilham as situações, uma emoção, um sentimento, um problema, ...?
Não a procuram? Não estão juntos (física ou emocionalmente)?
Faz-me pensar no meu primeiro (único?) grande amor e no que ele me dizia quando ia de férias sozinho com os amigos - "amo-te, mas quando estou longe de ti nem penso em ti, aproveito os dias ao máximo".
Uma parte de mim compreende isso, até porque namorei com estrangeiros vezes suficientes para saber amar à distância.
Mas há outra parte de mim que não consegue compreender esta forma egoísta de amar, de gostar com data e hora e implicando a presença física da pessoa.
Eu consigo estar bem, divertir-me, aproveitar o tempo sozinha (longe de quem gosto) e mesmo assim sentir prazer, desejo de partilhar o meu dia, um momento com a pessoa que eu gosto (um mail ao fim do dia, uma conversa no skype, um sms que lhe lembra que por mais que me divirta penso nele... tantas pequenas coisas que o fazem perceber que faz parte de mim e da minha vida, mesmo não estando fisicamente ao meu lado).
Não consigo compreender o gostar só de palavras, da mesma forma que não consigo aceitar o gostar só de acções, sem palavras.
Tenho falado muito com alguns casais que conheço e realmente os mais felizes são os que, mesmo separados fisicamente, mesmo divertidos, mesmo aproveitando o seu tempo, procuram sempre partilhar uma pequena porção do seu dia com a pessoa que amam ou de quem gostam (e vejo isso, nomeadamente, nos torneios internacionais, com alguns árbitros que estão bem casados e outros que... nem tanto).
Mas eu tenho de encontrar a paz no meu coração para encontrar o equilíbrio e perceber, fazer a triagem entre os que falam para me seduzir, atraídos por uma qualquer aparência exterior que em nada me corresponde, e os que calam mas estão lá, sempre presentes, com as suas pequenas acções cheias de significado, nunca esquecendo, nunca deixando passar um dia sem aquela lembrança, aquele pormenor, aquela atenção especial.
E chegamos à imagem que ilustra esta divagação, que é a que realmente reflecte o meu momento actual.
O coração está sarado (a cicatriz está escondida atrás, encostada á parede para não se abrir), mas será que ele está pronto para ir para a rua, para a luz?
Será que vale a pena estar a arriscar a tranquilidade e a paz da solidão por alguma relação superficial, sem futuro, baseada na aparência e no aspecto físico?
Será que descansou, que cicatrizou o suficiente para saber triar o que é verdadeiro do que é temporário?
Do que pode vir a ser real daquilo que não passa de uma ilusão de Verão?
O mundo está lá fora, mas não sei se quero partir para lá, não assim, não com uma embalagem desprotegida.
Não sei se quero sair do meu cantinho, do meu sossego, para a dor de estar a viver uma ilusão.
Durante muitos anos disse que queria estar com alguém que gostasse de mim bem gorda, (pois assim ele merecia que eu perdesse peso) mas a verdade é que eu não gostava de mim assim, como tal nunca podia ter alguém que gostasse verdadeiramente de mim.
Mas estando mais magra não confio nas pessoas que se aproximam de mim, o que causa um certo desconforto (será que a minha imagem mental de mim própria é assim tão má?).
Qual o ponto de equilíbrio?
Confiar que as pessoas se aproximam pela embalagem exterior e depois gostam do interior?
E porque não gostavam antes?
É esta a minha "luta interna" do momento e por isso estou "fechada para balanço" e estou sossegada, no meu cantinho a ver o que se passa "lá fora".
Para perceber se quem gosta de mim o faz por mim ou pela embalagem e, simultaneamente, para analisar se o facto de gostar de alguém justifica que saia deste cantinho confortável para a angústia e paixão de viver uma relação (mesmo que á distância).
Até porque sempre disse que não queria casar e cada vez mais penso que para viver uma relação hoje em dia teria de ser diferente do "tradicional", teria de ser uma relação em que cada um tem a sua vida e o seu espaço, mas não podem passar um sem o outro.
Complicado?
Talvez defeito de ter amado um holandês como amei, o facto de termos namorado à distância, o facto de já ter vivido com alguém me tenha feito assumir o que sempre pensei - o amor não pode ser sufocante e uma vivência a dois pode sufocar, especialmente se não houver amor, cumplicidade, partilha, objectivos comuns, cumplicidade.
Para manter a paixão na relação não há nada como cada um ter o seu espaço individual e poderem partilhar esse espaço com o outro, mantendo ao mesmo tempo a sua individualidade.
Dizem-me que isso é egoísta, partilhar os bons momentos e nos maus "fugir" para a sua casa e o seu espaço, mas não o vejo assim.
Muitas relações à minha volta sufocam porque as pessoas não tem para onde ir quando precisam de espaço, de gerir as suas mágoas ou zangas sozinhas antes de se confrontarem.
Se as pessoas pudessem ir para o seu espaço pessoal e digerir calmamente as situações, quando regressam estão muito mais calmas e as coisas são mais racionais e muito mais pequenas do que parecem. E a relação cresce e fortifica-se.
Porque mesmo separadas fisicamente as pessoas estão ligadas emocionalmente e espiritualmente e o contacto é indispensável, por isso as partilhas de espaço.
É egoísta pensar assim, eu sei.
Resulta provavelmente de não ter filhos, de ter tido um pai "ausente" fisicamente durante uma boa parte da minha vida, do excelente exemplo de uma das minhas melhores amigas que vive assim há anos (e tem 4 filhos em conjunto com o namorado), de acreditar que um coração tem espaço para ser partilhado, sem ser preciso que o outro queira ficar com todo o espaço, de acreditar que cada pessoa precisa do seu espaço e tempo, de gostar de alguém que está longe. (física e emocionalmente)... nem sei... são tantas coisas!
Mas uma coisa sei, o dia que sair para a luz, vai ser por alguém que me consiga demonstrar que gosta de mim.
E para isso não precisa de estar 24h por dia comigo, não precisa de estar a ligar a toda a hora ou mesmo de estar comigo todos os dias.
Precisará é de me mostrar que é de mim que gosta, que pensa em mim diariamente (por mais longe e divertido que esteja) e que não consegue estar um dia sem falar ou ter algum tipo de contacto comigo, partilhando comigo o bom e o mau.
E por essa pessoa, que me demonstrará que gosta de partilhar as suas coisas comigo, seja o seu espaço físico, sejam as suas emoções, seja o seu corpo... eu saio do meu cantinho e vou para o sol.
Por essa pessoa eu arrisco-me a apanhar um escaldão, arrisco-me aos golpes de vento, arrisco-me a ser ferida novamente e arrisco-me a uma felicidade que pode até ser de curta duração, limitada, impossível!
Mas sem ter a confiança nos sentimentos e desejos de quem quer estar comigo... o meu cantinho é um excelente sítio para estar, sossegada, a analisar os sentimentos e à espera daquela pessoa que vai estender a mão para me levar para o sol novamente.
Até me provarem que o facto de estar disposta a sair para o sol e escaldar-me outra vez vale a pena... vou continuar como na foto, a olhar para fora!

1 comentário:

Zé dos Anzóis disse...

É um processo lento, mudar de príncipios, e nunca saberás que eles mudaram até que alguma coisa que era certa para ti simplesmente deixe de o ser.
Beijo
Za
P.S: A Taverna continua a esperar a tua visits.

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