sábado, 13 de junho de 2009

Avó

Morreu a minha avó!

Morreu a pessoa mais especial que conheci...
Desapareceu a razão que me levava a correr as lojas de "souvenirs das cidades do mundo por onde passava...
Faleceu a pessoa que iluminava uma sala com o seu sorriso e com o seu sentido de humor...
Morreu aquela pessoa que passava pelas filhas e netas que chegavam para a ver... só para acarinhar um dos cães que as acompanhavam (Top, Nikko, Leão, Figo)...
Desapareceu aquele brilho nos olhos da minha avó ao ver um boneco de peluche, ao receber uma prenda, um carinho, um sorriso...
Morreu aquele sentido de humor especial que só a minha avo tinha e entendia (e que levou inclusive a que me dissessem "qualquer pessoa que não vos conhecesse e te ouvisse dizer o que dizes á tua avó ficaria chocada... mas a tua avó ainda é pior que tu, entende e brinca, tem um sentido de humor fabuloso..."), aquele brilho irónico nos olhos... aquele meio sorriso de quem quer brincar e se faz de zangada...
Faleceu aquela avó que pela gulodice, aquele prazer em comer "as partes porcas do porco", os doces mais doces... se esquecia de tudo...
Morreu aquela pessoa que resplandecia quando aprendeu a enviar sms... que adorava aprender coisas novas e se orgulhava de ver e responder a sms (e foi há tão pouco tempo... ainda em Janeiro estávamos a passear por Viseu, a escolher vestidos... a enviar sms a todos... a comer gelados no MacDonald's...)
Faleceu... a minha avó!

Lutou, contra tudo e contra todos... passou o marco dos 89 anos em sofrimento numa cama do hospital, pedindo para só celebrar os anos quando saísse de lá...
Deixou-se ir, para junto do marido, do neto que tanto amava... e descansa agora em paz.
Já não sofre, mas também nunca mais nos vamos rir das suas histórias, encantar com o seu riso genuíno, o seu carinho, a alegria que sentia quando via um cão, quando passeava o Figo...
Queria escrever mais... queria descrever a pessoa maravilhosa que era (com todos os seus defeitos)... a falta que me(nos) vai fazer... mas faltam as palavras... falta-me ela!!!
Nunca mais vou conseguir viajar sem aquele sentimento de perda... de não ter a minha avó a quem levar um "souvenir"... a quem encantar com as fotos e postais...
Mas a vida segue em frente e sei que está bem, junto dos seus santos e anjos, junto dos que sempre amou!

Aspectos que não vou esquecer nunca destes dias de dor:
A visão da minha avó... naquela cama de hospital, enrolada nos lençóis e na manta.... sem vida! (depois de ter estado com ela na véspera, de lhe ter dado jantar, de a ter visto sorrir e brincar.... e de ter partido e a deixado dormir... sozinha...)
A dor silenciosa e forte da minha mãe, a dor e solidão da minha madrinha, a dor do meu tio, o carinho e tristeza da minha imã... as mensagens de apoio e a dor de toda a família...
As palavras que proferiram as suas amigas freiras durante o seu velório e o carinho que tinham por ela ("sempre bem-disposta.... lia tão bem durante a Eucaristia.... era tão nossa amiga.... falava tanto nas filhas e no filho, netos e bisnetas... sempre foi muito próxima da igreja e notava-se que era especial...")
As palavras proferidas durante o velório pela sua amiga e o sentimento de perda das pessoas que com ela privaram ("dava tão bons conselhos.... era tão bem disposta... ajudou-me tanto...")
O pranto sentido de uma das residentes do lar que com ela almoçava e o sentimento de perda que deixou ("era a alegria e a alma daquele lar.... ainda na última noite que a vimos nos disse - Vá meninas, vamos dormir para amanhã acordarmos sorridentes e bem dispostas... nunca a a vou esquecer... era um sol que nos iluminava...nunca lá apareceu ninguém como ela, nem vai aparecer... era a alegria daquele lar")
As palavras que a minha mãe proferiu - "É muito triste o dia em que deixamos de ser filha e passamos a ser só mãe"
A visita feita por todos os enfermeiros e enfermeiras que cuidaram dela nos últimos tempos de vida e o carinho que por ela sentiam ("era tão educada... sempre a brincar... via-se que era uma senhora...")
O poema que a minha madrinha lhe tinha escrito no dia da mãe deste ano e que me pediram para ler na missa de corpo presente (e a ovação que ouvi quando consegui chegar ao fim sem sufocar com as lágrimas e a dor de o ler a olhar para o caixão da minha avó.....)
As lágrimas da minha irmã e do João no cemitério...
O carinho e apoio do meu amor ao longo destes dias...
A "ironia" de ver a quantidade de flores que acompanharam a minha avó no seu funeral... ela que sempre foi alérgica aos cheiros (mas que amava as flores e plantas)...
A quantidade de pessoas que passaram pelo seu velório e a acompanharam no seu funeral e na missa de 7º dia
As palavras amigas e o sermão a ela dedicado que fez o padre Abel na sua missa de 7º dia
A visão do seu casaca de quadrados preferido, que comprara o ano passado e que estava à espera dos dias de sol para o poder passear e exibir (só o usara uma vez para tirar fotos para enviar à família, orgulhosa com a sua compra).... quando fomos desfazer o seu quartinho no lar...
O oração de Sto Agostinho que deram à minha madrinha na missa do 7º dia
Todo o apoio e acompanhamento que o meu pai fez ao longo da sua doença e até ao fim
O terço de Lourdes que encontrámos (finalmente) na carteira com que andava (e que sempre a acompanhava) e o terço do Vaticano que mantinha na sua mesinha de cabeceira... recordações de viagens que fiz por ela (já que não podia visitar esses locais tão especiais para ela)... um deles colocado sobre o seu coração para a acompanhar para sempre...
O último beijo que lhe dei em vida.... e o último que lhe dei antes de fecharem o caixão!
Os netos Marinho e João, bem como os "genros" João e Francisco (em representação das netas) a transportarem o seu caixão...
A sensação de a minha avó ter esperado por mim para finalmente descansar em paz...
A visão da sua casa, a casa de tantos anos, de tantas noites (mal dormidas naquele sofá)... vazia....
Ver o seu quartinho do lar... sem ela... e depois sem as suas coisas...

Tantas... tantas coisas que me marcaram nestes dias....

Mas não é o momento de falar delas.... a dor é muita... a saudade e a ausência estão muito presentes... só queria deixar aqui alguns momentos... de homenagem a uma GRANDE MULHER!

Sei (sinto) que a avó está bem, melhor do que se tivesse conseguido superar esta batalha impossível...
Sei (sinto) que não tem dores, não está curvada, e nos observa lá de cima, alta e elegante, sorridente, ao pé de todos os que ama... mas a saudade persiste em todos nós que a conhecemos, amámos e aqui ficámos!

Descansa em paz avó... nunca serás esquecida!

1 comentário:

Water disse...

Os meu mais sinceros sentimentos... beijos grandes e força de quem te gosta

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