Este é um ficheiro que recebi hoje da minha mãe e que me fez pensar (tenho andado a pensar muito ultimamente... ou tenho muito tempo livre... ou é para contrariar o louro do cabelo que está de volta).
Desde que me lembro, sempre fui muito agarrada às minhas coisas. Não no sentido de serem só minhas, pois não tenho o mínimo problema em emprestar ou dar as minhas coisas a quem precisa ou mas pede.
Penso que em criança também seria assim, apesar de ter a noção de que seria mais "agarrada" ao que era meu. A minha mãe poderá corrigir-me se estiver errada, mas acho que nunca me importei de partilhar o que era meu (e se não for o caso - já evoluí nesse aspecto!!!).
Também acredito que pode vir de uma infância que, embora feliz (à sua maneira), nunca foi de grandes luxos. E de uma auto-estima muito baixa (isso aí poderíamos passar horas a falar disso, do que a causou... podíamos aplicar técnicas freudianas... mas não vale a pena - fica para outras alturas).
Mas sempre coleccionei tudo o que me davam, pois sempre representaram momentos na minha vida que me marcaram. Ou porque tinha ganho em alguma prova desportiva, ou porque tinha sido uma aluna ou atleta a oferecer, ou alguém que significava algo, ou tinha ganho... não sei... tudo para mim tem um significado.
Na roupa também era muito assim (era?! ainda sou... mas em recuperação). Era porque estava mais gorda e depois emagrecia, então ficava com a roupa grande para se aumentasse de peso. Era porque estava a engordar e então ficava com a outra roupa para quando emagrecesse. era porque era a roupa que eu tinha feito, ou que me tinha sido oferecida. Eram os meus sapatos (mais ténis) que eu adorava e estavam todos rotos e defeituosos, mas eram os primeiros que comprei.
Quando andava a arrumar as coisas para a ex-mudança para a Holanda é que me apercebi da quantidade de coisas a que me agarrava (sejamos honestos... ainda tenho muitas mais do que o necessário). Eram os livros e cadernos da faculdade (para quê? não vou voltar àquele curso), eram dezenas de desenhos de miúdos com quem trabalhei, toda a bonecada que me tinham oferecido ao longo dos anos, velas, cristais, jarras, etc., etc. Já para não falar dos inúmeros serviços de louças, copos, faqueiros, etc... (desvantagens de ter sido a primeira e única rapariga da família a ir viver sozinha?!).
Eu não sou capaz de "reciclar" nada... nem mesmo as coisas de que não gostava nem um pouco, pois tinham sido oferecidas.
Pode vir de um síndrome de nunca ter tido muita coisa e nunca ter querido sobrecarregar os meus pais com isso (que para dificuldades já bastavam as que se passavam e as que a morte do meu irmão originaram)... mas ao mesmo tempo penso que não tem sentido... pois nunca fui de poupanças ou precaver o futuro (sempre fui mais de "chapa ganha, chapa gasta".. e se possível a oferecer coisas que as outras pessoas que me eram próximas precisavam). E se queria alguma coisa em especial... trabalhava para isso (como fiz aos 14 anos quando quis comprar os meus primeiros ténis de marca... os meus lindos ADIDAS; ou aos 16 para a minha primeira aparelhagem...).
Pode vir de um sentimento de ... auto-estima... ofereceram-me aquilo, por isso gostavam de mim! É possível. Por baixo da aparência forte e independente esteve durante muito tempo (será que não está ainda) uma necessidade grande de ser amada e apreciada... mas não penso que isso seja o mais relevante, pois com o passar dos anos aprendi que os verdadeiros amigos e pessoas que nos amam... pelo que somos... acabam por estar sempre presentes. E, sejamos honestos, eu é que me afasto sempre... sou distante, deixo o espaço para as pessoas que sinto precisarem mais de atenção do que eu.
Será que me agarro a tudo para não passar mais dificuldades? Para que não tenha de depender de terceiros ou sobrecarregar alguém com as minhas necessidades? Também não penso que seja isso. Tirando este pequeno momento de fraqueza em que me encontro (há que aproveitar enquanto dura)...sempre procurei ter as minhas coisas e lutar por elas... e sejamos honestos... nunca passei assim tantas dificuldades como isso (é certo que detesto açorda e papas de pão... e que isso terá uma razão no meu subconsciente... mas nunca passei fome, nunca fui privada de nada importante, sempre tive as minhas bolas de futebol e ténis para jogar... e não é isso que conta?).
Ou será que me agarro às coisas porque significavam pequenas vitórias na vida? Consegui comprar isto, consegui ganhar aquilo, ofereceram-me isto - faço parte de... sou importante para... ou representavam ofertas de namorados ou pessoas por quem era/fui apaixonada (e isso... ainda hoje sou incapaz de me desfazer... demorei 10 anos a autorizar que fosse dado um casaco enorme e rasgado do meu grande amor, algumas das peças de roupa que lhe(nos) tinha feito... mas foi a única coisa que consegui fazer... tudo o resto... ainda está numa das gavetas a esvaziar...).
Não acredito que as pessoas guardem as coisas por terem medo que lhes falte no futuro (apesar de que, se pensarmos bem... guardar roupas de todos os tamanhos pode, de forma implícita, significar que se escusa de estar novamente a gastar dinheiro naquilo), pelo menos eu não penso assim.
E quanto a guardar rancores, ressentimentos, etc... quem pensar isso de mim... conhece mesmo só a parte superficial...
Eu irrito-me com as pessoas, chateio-me (tenho o famoso "mau feitio" - para quem não conhece a minha irmã)... posso até (como costumo dizer) "matar" alguém na minha vida... mas acaba sempre por ser sol de pouca dura. Deve ser de estar perto do sol aqui na nuvem... mas com o tempo acabo sempre por esquecer o que se passou. Acho que a vida é muito curta para estarmos "para sempre" chateados com algo ou com alguém. Não é um processo imediato (sou sincera)... e muitas vezes quando não gosto de algo ou de alguém... é complicado ceder. Mas se observar bem... toda a gente tem um lado bom, um lado positivo. É só uma questão de valorizar esse lado e esquecer o outro. O que, também acarreta um lado mau - arriscamos-nos a ser pisados!
Como tudo na vida... o esquecer os ressentimentos, etc... deve ser usado com moderação e bom-senso. Mas deve ser sempre usado! Porque... ninguém é perfeito, nada é sem falhas... e nós somos muito mais imperfeitos do que poderemos algum dia imaginar!
Por isso... aos poucos vou limpando as minhas "gavetas", os meus "armários" e o meu coração... pois é sempre preciso espaço para novas coisas e novas emoções.
Quanto a isso não tenho problemas - acredito no futuro e em novas oportunidades (por favor... numa família "disfuncional" como a minha... se eu não me libertasse destes sentimentos... não sei se iria muito longe).
Tenho é de trabalhar na parte de... não me agarrar a tudo o que recebo, a tudo o que tenho (acho que é mesmo mais na parte de roupa e calçado... porque o resto... já fui duramente criticada e "castigada" por não ser minimamente agarrada aos valores materiais da vida) e ter mais espaço na minha casa... nos meus armários.
No coração? Há e haverá sempre espaço livre para o que vier - as coisas más partem o coração para sair... por isso quando ele se recompõe... está novamente cheio de espaço para as coisas boas que vierem.
Agradeço do coração o texto enviado - pois é mesmo uma fonte de reflexão - além de ter percebido a "indirecta" (acho que foi muito directa) sobre a roupa, sapatos, gavetas e armários (sim, porque os bonecos já foram, poupanças não há.... estou pronta para o futuro!).
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