domingo, 6 de abril de 2008

Sozinha no meio da multidão?


Recebi estas imagens de uma pessoa especial e, ao mesmo tempo, hoje li uma das crónicas do António Lobo Antunes em que ele falava de uma relação de amizade com um amigo que tinha morrido.
E as duas coisas fizeram-me pensar no quanto as pessoas são ou se sentem diferentes daquilo que os outros observam ou acreditam.
Nestas imagens, que adoro... e não coloquei pela minha ordem de preferência, podemos ver animais que se fazem passar por outros.
Tirando a piada das fotos e o trabalho feito, faz-me pensar que é uma realidade que se aplica à nossa vida diária.
Quanto de nós não conhecemos dezenas de pessoas (no trabalho, na nossa vida diária) que procuram passar por algo que não são?
Quantos conhecem pessoas que projectam uma imagem completamente diferente daquilo que são... muitas vezes apenas por uma questão de se integrarem no grupo?
Claro que muitas o fazem para se integrarem, para fazerem parte de algo. Outras para se esconderem numa realidade que não e a sua e assim não assumirem os seus problemas ou "limitações". E existem as que encaram este "personagem" como um desafio, uma forma de conhecerem novas realidades.
Na crónica do Lobo Antunes, ele falava de como o amigo dele (de infância) o conhecia bem e convivia com isso. Fala de como o amigo era sociável, extrovertido e de como ele próprio se sentia um bicho-do-mato, sem gosto pelas grandes reuniões sociais, pelo convívio com as multidões. E da inveja que sentia de não conseguir ser assim.
As duas coisas fazem-me reflectir na minha própria maneira de ser...e na ilusão que as pessoas que não me conhecem (quase todas) têm.
A maioria das pessoas conhece-me na minha função social/profissional. Ou no trabalho (como Responsável de Comunicação ou como Chefe de Vendas, Formadora...), ou em provas desportivas e Torneios (como treinadora, jogadora, RP, locutora, guia, ....). Tudo isto são actividades em que eu "visto a pele" da pessoa que tenho de ser. A pessoa extrovertida, alegre, que procura que tudo corra pelo melhor, que se alcancem os objectivos, que nada falhe, todos estejam bem, etc. Ahhh... e tudo isto porque... estou no meu mundo. Naquilo que me apaixona. No que gosto de fazer.
Depois há a outra pessoa. A que tem de lidar com os grandes grupos de gente desconhecida, as festas de amigos em que não se conhece metade deles... e aí... tenho muita inveja de pessoas como a minha amiga Clara. A Clara é uma das minhas amigas mais cultas, mais inteligentes, mais amiga das pessoas de quem gosta. No entanto, num primeiro contacto muitas pessoas acham que é uma pessoa fria, distante... por vezes até pretensiosa (se estiveres a ler Clarinha, desculpa). Apesar disso, é uma pessoa que está à vontade em qualquer situação, consegue manter uma conversa com qualquer pessoa e está... bem. Em pouco tempo consegue saber tudo sobre a pessoa com quem está a falar e mostra verdadeiro interesse por elas (mesmo que não o tenha).
Eu não sou assim. Eu sou um "Lobo Antunes". Uma pessoa que está sozinha no meio da multidão. Uma pessoa que é extremamente tímida (sim... eu sei... sou uma excelente actriz) e que se sente extremamente desconfortável no meio de uma multidão de pessoas ou em situações desconhecidas. Fico sem saber do que falar... não me lembro de nada de relevante que a pessoa tenha dito... e ou "visto novamente a pele" daquela pessoa extrovertida e comunicativa e sociável... ou acabo por ficar sozinha e sem graça.
Parece muito contraditório (sim... eu sei que sou assim)... ou que faço um esforço quando estou a fazer locuções, ou a vender as minhas ideias ou projectos, etc. Na realidade não custa nada. É algo que faço com paixão e que gosto. E que, mesmo que não seja a minha maneira de ser... é algo que já sai naturalmente.
As imagens (algumas) fazem-me sentir exactamente como aqueles animais... tentando ou mostrando ser uma pessoa que nem sempre sou eu... para não destoar... para me integrar (na empresa... no grupo onde estiver na altura)... mas sempre mostrando que não é um elemento daquele grupo... que só está a usar algum tipo de disfarce para se integrar.
E a verdade é que... se a pessoa não se sente bem na sua pele e se está a esforçar por ser algo que não é... ao fim de um certo tempo a realidade ganha e a pessoa acaba por se revelar na sua verdadeira natureza.
Uma vez perguntaram-me, na fase final para um emprego, como eu me descreveria. Foi fácil :-)Depois perguntaram como os meus amigos e colegas me descreveriam. Fácil na mesma... mas completamente diferente do que eu disse de mim (sim... também sei que sou muito exigente e critica comigo mesma... é feitio, não defeito). A seguir ele disse-me uma coisa que nunca mais esqueci e que procuro aplicar cada vez mais na minha vida:
"Paula, já percebeu a energia que gasta a projectar essa imagem que não é a sua? A energia a transmitir uma coisa que no fundo não e a Paula? Não é um desgaste enorme ao fim do dia, da semana?"
A realidade é que nunca tinha, até essa data, percebido as coisas dessa forma.
E no entanto, com a idade (a PDI não perdoa a ninguém) percebo o desgaste que é tentar agradar a toda a gente... e assumo que é melhor ser eu (única, diferente, criança, adulta, madura, imatura, forte, fraca, exigente, perfeccionista, mau -feitio, sorridente, ...), com tudo de mau e de bom... do que tentar ser outra coisa que não... sozinha na multidão!
Por isso... agradeço o texto do Lobo Antunes, que me acordou de novo, e as imagens lindíssimas que me fizeram sorrir (rir algumas) e perceber que... cada um é como cada qual... vestimos é a pele que nos convêm, quando precisamos :-)

1 comentário:

Anónimo disse...

... era tão mais facil se todos fossemos verdadeiros.. como uma amiga me disse uma vez "não podemos ser verdadeiros nem sinceros. isso assuta-os".. infelizmente é uma realidade, por isso para ti que estas sozinha na multidão basta encontrares todos os outros solitarios darem as mãos e fazerem ver aos camaleões que se pode estar e gostar sem que tenhamos que ser outro qualquer.

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