quinta-feira, 20 de maio de 2010

Palavras que merecem ser partilhadas

Vi no blog da For You e não resisti a partilhar.
Porque a maternidade nos(me) faz ser mais sensível a este tipo de mensagens, nos(me) faz ter as emoções à flor da pele, e porque sinto pela minha filha tudo o que aqui está descrito.
E porque a minha mãe foi e é tão importante e marcante na minha vida como espero vir a ser na dela, sem descurar os valores que recebi e espero ser capaz de lhe transmitir!

"Há quatro anos, faz hoje quatro anos, eu estava a arrumar roupinhas de bebé e a dar risinhos com a minha irmã. Estávamos contentes e nervosas, expectantes com este bebé que era só nosso e com quem íamos “poder brincar à vontade”.

Eu e a minha irmã tínhamos esta sensação estranha de que o bebé que eu ia ter pertencia na realidade à nossa mãe. Comentávamos isto e riamos: “Achas que a mãe nos vai deixar andar com ela ao colo o dia todo?”. Na altura, sabíamos da estranheza desta impressão, mas não compreendíamos bem o porquê. Achámos que se devia ao facto de os últimos bebés a que tínhamos tido acesso terem sido os nossos dois irmãos mais novos, esses sim, de facto, os bebés da minha mãe.

Hoje, quatro anos depois, compreendo que não era só isso. A verdade é que eu não sabia ser mãe. A minha mãe sabia. A minha mãe é uma mãe de mão cheia. E eu, inconscientemente, achava que por isso, ela seria a melhor pessoa para ser a mãe do meu bebé.
Eu dizia “a minha filha” e olhava em volta, a tentar perceber se mais alguém achava aquela frase tão estranha como eu. Em segredo dizia-te "és o meu brinquedo". E mais baixinho, "desculpa, eu não sei bem o que estou a fazer".

Não foi automático, nem fácil, nem rápido. Foi trabalhoso e desafiante, como costumam ser as grandes aprendizagens da vida. Foi o que tinha que ser. Tu aprendias a viver neste mundo, eu aprendia a ser a tua mãe. Todos os dias coleccionámos uma nova lição. Até não haver dúvidas e estarmos as duas adaptadas. Mãe e filha.

Gosto de ir avaliando a minha prestação. Faço-o de uma maneira científica e rigorosa.
E então às vezes pergunto-te:

“Gostas da mãe ou queres ir buscar outra ao supermercado?”

(Umas vezes dizes logo Gosto desta, outras gozas-me descaradamente. “Gostava mais de ter outra” e acrescentas alguém que sabes que me vai fazer ciúmes, muitas vezes a avó, mãe do pai. Também já disseste que gostavas de ter dois pais. Eu rio-me e tu também. Sabemos que não tens alternativas. Mãe é mãe. Que se há-de fazer?)


Amanhã fazes quatro anos e eu tento lembrar-me como é o mundo quando temos quatro anos. E ocorre-me que crescer não é mais do que o esticar dos ossos aliado a algum cansaço trazido pelos anos. Não é muito mais do que isso, sabes. Para mim não tem sido.
Eu estou na mesma para aí desde os meus 18 anos. Não mudei muito, sou talvez mais paciente, mais tolerante. Sei mais coisas, descobri mais caminhos. Mas na essência, estou igual. E por isso, te digo: não esperes que os anos te tragam respostas. Confia que aquilo que hoje te parece evidente provavelmente é porque é mesmo.

Um dia vou mostrar-te este texto. Mas só quando fores crescida, se calhar mesmo à beira de teres os teus próprios bebés. E nesse dia vais perceber que ninguém sabe realmente o que fazer. Fingimos, isso sim. E ao fazê-lo aprendemos.
Há coisas que eu faço porque tem que ser, porque é o que é suposto uma mãe fazer. Às vezes consigo aparentar convicção, outras nem por isso.

E aqui te conto alguns segredos.
Eu e o pai, quando vamos às reuniões na tua escola, sentimos sempre que os pais dos outros meninos são amigos dos nossos próprios pais e não pessoas da nossa idade.
E eu, quando falo com a tua educadora, acho sempre que ela me vai mandar vestir o bibe e sentar-me ao pé de ti e dos teus amigos no tapete.

Lembras-te quando pintaste as paredes do corredor a caneta? Fiz uma cara zangada, mas deram-me vontade de rir aqueles rabiscos a menos de um metro do chão pela parede fora.

Outra: Quando eu insisto para comeres a sopa, é mais por uma questão de princípio. Não quero que sejas uma miúda “esquisitinha”. Mas sabes, na maioria das vezes, até nem havia problema se não comesses. Há coisas que eu também não gosto, ou que só aprendi a gostar mais tarde.

Ah. E eu não me importo se não tiveres sempre boas notas.

E acho que quando entrares na escola não devias ter trabalhos de casa.
Eu prefiro que tu tenhas vontade de brincar do que sejas a melhor da turma. Aliás, não precisas de ser a melhor em nada.Se um dia fores a melhor (seja no jogo do elástico ou se ganhares o Nobel da Química) que seja porque o percurso para lá chegar te deu gozo e felicidade e não porque meteste na cabeça simplesmente que tinhas que ser a melhor.

Também não precisas de um dia ter um cargo muito importante. Basta teres um trabalho que te faça feliz e te permita obteres as coisas que são verdadeiramente importantes para ti. Preocupa-te com essas, deixa as outras.
O tempo é mais importante que o dinheiro. A liberdade é carregarmos pouca bagagem. Não stresses, ignora o ritmo do mundo e vive segundo o teu próprio ritmo.
Vais estar muitas vezes rodeada de pessoas chatas. Uma dica: Mantém a tua imaginação fértil e a tua criatividade apurada. São o botão turbo para accionar em caso de emergência: O teu corpo fica, mas a tua cabeça já está a passear. Abana a cabeça com ar afirmativo e diz “Pois” ou “ahã” de vez em quando. Ninguém vai reparar que não estás a prestar atenção nenhuma.

Eu gostava que me respeitasses sempre mas que não tivesses medo de mim. Eu sei que quando fores adolescente vai haver alturas em que terei que te ameaçar com mil castigos e tu me vais desafiar constantemente. Às vezes já o fazes. Mas olha, se um dia estiveres mesmo enrascada, vem pedir-me ajuda. Que eu seja o teu primeiro telefonema. Sempre.
Aconteça o que acontecer, eu estou aqui para te ajudar.
E mantém-te fiel aos teus princípios. Em tudo o que fizeres deves ser honesta, trabalhadora e justa. Educada. Ciente da liberdade dos outros. Tolerante. Boa. Generosa. Feliz.
Tudo o resto são pormenores.

E, olha, dou-te estes conselhos, porque sim.
Porque as coisas que a minha mãe me ensinou ficaram para sempre na minha cabeça.
Mas eu sei que a decisão será sempre tua. Não posso viver por ti.

Eu sou tua, mas tu não és minha. Tu és do mundo.

E, aos quatro anos, o mundo é teu.

Parabéns, meu coração."

Imagem retirada da Internet

2 comentários:

Carla R. disse...

Poi é ... somos deles, mas eles não são nossos ... e sempre foi assim, mesmo que muitas vezes pensemos que não...

Nuvem disse...

A MÃE QUE CAPOTOU - antes de mais obrigada pela visita.
E é bem verdade, apesar de custar reconhecer isso :)
Mas a maternidade é uma verdadeira lição de vida :)
beijinhos

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