sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Honestidade ou realidade?

Já repararam na dualidade de critérios de amizade que os nossos amigos, namorados, família, ..., nos exigem?
Por um lado esperam que sejamos o ombro amigo, o confidente, o apoio nos momentos maus e a presença nos bons, mas se possível em silêncio e sem dizermos o que realmente pensamos.
Pedem conselho, ajuda, um ombro/ouvido amigo, mas que possa estar de acordo com o que eles pensam ou sentem e que, Deus nos livre, não tenha opinião própria e muito menos se é contrária ao que se espera de nós.
Dizem que os amigos são para os bons e maus momentos, que são a voz da razão e as pessoas que nos vão dizer as coisas como elas são e não como gostaríamos que fossem ou como sentimos que são.
Que a honestidade é a melhor qualidade de um bom amigo...
Mas a realidade é bem diferente desta utopia, pelo menos pela minha experiência.
É verdade que toda a vida calei o que sentia, o que queria, o que pensava, em prol dos outros, de poder ajudar quem precisa, de estar presente nos maus momentos.
Não sou uma boa amiga, sempre o disse, pois não sou amiga de estar sempre a ligar, em contacto, etc...
Não me lembro de alguma vez ter descurado um amigo em necessidade, um amigo em dificuldades para mim sempre esteve acima de tudo e todos - pelo menos que eu tenha conhecimento dos seus problemas.
E, até neste caso, sem dizer o que realmente penso.
Infelizmente, cada vez mais me apercebo que as pessoas não querem ouvir o que pensamos, o que sentimos.
Vem ter connosco, mas o que querem é ouvir concordância com o que pensam, com a forma como procedem, com os seus problemas pessoais e a forma como reagem a eles.
Assumo que deve ser problema meu... talvez me tenha tornado insensível, talvez tenha "morto/morrido/matado" a minha opinião pessoal, os meus sentimentos, em prol de ver os outros felizes e de bem com o mundo (ou pelo menos com eles próprios).
A verdade é que cada vez que digo o que realmente penso, o que realmente sinto, sou criticada, sou mal interpretada, sou... nem sei... incompreendida.
A culpa é minha, eu sei, pois sempre deixei que as pessoas imaginassem que eu via tudo com olhos "cor-de-rosa", que só via bem em tudo e que sempre esquecia o mal que me faziam ou que faziam a quem as rodeava.
A realidade é que o silencio é muito mais cómodo.
O fingir que não se vê o erro dos actos, o erro das palavras, acções, sentimentos...
Porque assim estamos bem com tudo e com todos, mesmo que não estejamos bem connosco.
E o silêncio faz com que as pessoas nos procurem, que encontrem consolo na nossa presença.
A teoria de que a honestidade é a melhor virtude de um amigo, não é algo que eu sinta que faz parte da minha vida, ou que as pessoas que me rodeiam estejam prontas a aceitar.
São rápidos a julgar os outros, mas não querem ser julgados, nem pela pessoa que procuram para os apoiar.
Não quero dizer com isto que os amigos devam julgar os outros, mas podem ter opiniões contrárias, ambições diferentes, sentimentos diferentes, sem que com isso percam a amizade pela pessoa.
Sempre me pediram para aceitar os outros como são, para desculpar todos os pequenos defeitos e falhas de carácter de quem me rodeia.
Custa-me muitas vezes fazer isso, mas de um modo geral tento aceitar que as pessoas, especialmente os amigos e a família, são humanas e que cada um tem a sua personalidade e maneira de reagir e sentir as coisas.
Ouço o que dizem, vejo o que fazem, sinto o que pensam.... e de um modo geral tento não contrariar, não dizer o que penso (não minto... limito-me a calar), pois aprendi que isso só é mau para uma pessoa - eu!
Mas muitas vezes me coloco esta questão:
Eu estou sempre presente quando me pedem (ou não), quando precisam, quando sinto que é necessário. Perdoo/esqueço todas as ofensas, gestos contrários à minha natureza, pensamentos e sentimentos que não entendo, porque não passam de momentos e cada um tem de viver com as suas acções e pensamentos.
Mas e a mim? Quem me aceita pelo que eu verdadeiramente sou/penso/sinto, em vez do que querem que eu seja/pense/sinta?
Porque é que só me aceitam quando sou aquela pessoa cordata, conciliadora, pacifica, paciente, de bem com todos e quando não concordo, tenho uma opinião contrária, sinto algo diferente, não ignoro a falta de educação ou as agressões... sou logo egoísta, só penso em mim, não sou eu, nem parece meu, tenho é de perceber que a outra pessoa é assim e aceitar, etc?
E a mim, quem me aceita pelo que eu realmente sou?
Porque não tenho direito a sentir raiva com alguma situação, dor com algo que me magoa (ou a alguém que amo), dizer o que realmente penso, sem medo de desiludir alguém, de piorar as coisas?
Porque devo apoiar os outros nos seus momentos maus, mas ninguém parece aceitar os meus, ou perceber que eu também tenho sentimentos?
É algo que há muito tempo me "atormenta", porque me pedem para ser o ombro amigo, para aceitar as pessoas como eles são, para ser amiga.... se depois não retribuem?
Porque não me aceitam como sou, mas preferem a imagem que construíram de mim?
Porque não aceitam, sabem ver, que posso estar ao lado, apoiar, sorrir - e mesmo assim ter a minha própria maneira de pensar e sentir, que pode ser radicalmente oposta à da pessoa que estou a apoiar?
Porque o facto de se ouvir um amigo/família é bom, mas expressar o que realmente sentimos com a situação é mau?
Fica a ideia que não tenho bons amigos, pois não me aceitam pelo que sou mas só pelo que querem que seja...
Fica a ideia de que não digo o que realmente penso para não perder as pessoas, ou a sua amizade - e que isso não é amizade.
Mas a realidade é outra bem diferente...
Com esta idade, percebi que é mais simples e menos desgastante calar o que penso ou sinto e aceitar os outros pelo que são e pensam/sentem, pois o desgaste de ter de explicar, lutar contra tudo e todos para perceberem como sou... não compensa!
Por isso, se eu não falo, se não explico, se estou calada... é simplesmente porque não vale a pena!
Se estiver calada e não disser o que penso e sinto o mundo, pelo menos das outras pessoas, continua cor-de-rosa (ou fica).
E atendendo a que sou só uma pessoa, prefiro que as outras pessoas estejam bem a estar a cansar-me a explicar porque eu não estou, ou justificar porque não concordo com alguma atitude ou acto, ou porque alguma situação me magoou!
Até porque que esqueço depressa e ultrapasso facilmente a maioria das coisas, e as pessoas que amo nem sempre são assim!
Por isso prefiro ser o resto da vida a "Paulinha" para o mundo, do que assumir que, verdadeiramente, sou a "Paula".
A Paulinha está sempre bem, sorri, ignora as coisas que são contra a sua natureza ou feitio, mesmo que a magoem continua a andar.
A Paula pensa pela sua cabeça, tem sentimentos, magoa-se.
É preferível a Paulinha andar a passear pelo mundo e a Paula ficar guardada dentro de mim, para mim, para os meus momentos de fraqueza em que a Paulinha está a dormir ou cansada de levar porrada de todos os lados e sorrir.
Mas a Paulinha está sempre livre para apoiar os outros e a Paula por vezes pensa "porquê?", "para quê?" e por vezes é humana demais.
Prefiro a "solidão" de ser a Paulinha que cala a sua dor e aceita a dos outros que a dor que causo ao ser a Paula, e ao colocar-me em primeiro lugar e pensar em MIM.
Sei que é caso para tratamento psicológico, mas já são tantos anos que já não é defeito, é feitio!

1 comentário:

Anónimo disse...

eu não peço nada... mas estou cá quando quiseres...

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