sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Sinto, logo escrevo

Já vos aconteceu terem milhares de palavras a gritar na cabeça e não as conseguirem dizer?
A mim acontece sempre, principalmente se é para falar do que sinto.
Os meus amigos criticam e brincam com isso, dizendo que nunca viram uma RP ou responsável de eventos que tanto fala dizer que não consegue falar!!!
Mas é verdade, quando se trata de falar de sentimentos, de emoções, as palavras amontoam-se na cabeça, gritam o que querem dizer, mas da boca não sai nada!
Não sei se é para não magoar as pessoas que me rodeiam, se é porque quando saem são sempre mal interpretadas, se é porque não quero que soem como criticas... não sei, mas não consigo que saiam, e por isso comecei a escrever.
São palavras confusas as que saem para o papel, mas pelo menos dá uma certa coerência à confusão que elas criam quando se revoltam na cabeça por não as conseguir traduzir em sons.
E não é um facto recente, só que a idade, os mal-entendidos, as desilusões, os desgostos só serviram para agravar esta situação.
A maior parte das pessoas prefere falar.
Dizem-me muitas vezes "porque não falas?" ou "agarra no telefone e liga", mas lembro-me que já em criança detestava telefonar e muitas vezes convencia os meus irmãos a fazerem por mim os telefonemas mais simples.
Excesso de timidez?
Talvez, mas acho que é mais excesso de má-compreensão.
As palavras escritas podem por vezes magoar mais do que as faladas, mas são verdadeiras, são a expressão dos sentimentos, sejam eles claros ou confusos.
E a verdade é que desde sempre eu adorava escrever, apesar de não ter a disciplina e força de vontade de escrever regularmente, pois tenho vários diários começados (e nunca acabados) milhares de cartas trocadas com amigos e correspondentes... enfim, o costume... as coisas que me apaixonam mesmo são começadas mas sem força para as acabar.
Sei que tenho de melhorar, aprender a dar voz às palavras, mas por agora só lhes consigo dar expressão escrita... Pode ser que no futuro consiga dar-lhes voz!
Até porque penso ou escrevo o que sinto, sem reflectir, sem censura... e muitas vezes, à posteriori, ao pensar no que escrevo (sim, por norma não estou a reler) há tantas outras coisas que surgem, que gostaria de ter dito ou escrito e não consegui na altura...
Para ser escritora teria de escrever, reflectir sobre isso, parar e sempre que pensar sobre o assunto completar o meu primeiro texto... e eu sou mais impulsiva, a escrita é mais terapia... é mais pensar e deixar escapar pelos dedos (em substituição da voz) o que está no coração (mais do que na cabeça)...
Aqui ficam igualmente algumas citações sobre escrever, de que gosto muito:
  • Escrever é uma maneira de falar sem ser interrompido (Jules Renard)
  • Escrever é batermo-nos com tinta para nos fazermos compreender (Jean Cocteau)
  • Devemos escrever para nós mesmos, é assim que poderemos chegar aos outros (Eugène Ionesco)
  • Escrever é por em ordem as nossas obsessões (Jean Grenier)
  • Não se pode escrever nada com indiferença (Simone de Beauvoir)
  • Viver é lutar contra os demónios do coração e do cérebro. Escrever, é pronunciar sobre si o último julgamento (Henrik Ibsen)
  • Escrever é ter a companhia do outro de nós que escreve (Vergílio Ferreira)
  • Os escritores raramente escrevem o que pensam. Limitam-se a escrever o que pensam que os outros pensam que eles pensam (Elbert Hubbard)
  • Escrever é sempre esconder algo de modo que mais tarde seja descoberto (Italo Calvino)
  • Escrever é que é o verdadeiro prazer; ser lido é um prazer superficial (Virginia Woolf)
  • Escrever é também não falar. É calar-se. É gritar sem ruído. (Marguerite Duras)
  • É a escrever mal que se aprende a escrever bem (Samuel Johnson)
  • As mulheres escreveram o poema do amor; os homens comentaram-no, mas não o compreenderam (Arsène Houssaye)
  • Escrever é como fazer amor. Não te preocupes com o orgasmo, preocupa-te com o processo (Isabel Allende)
  • Escrever não é fácil nem difícil, antes possível ou impossível (Camilo Cela)
  • Para escrever, só é preciso ter alguma coisa para dizer (Camilo Cela)
  • O meu psicanalista é a minha máquina de escrever (Ernest Hemingway)
Não quero dizer com estes pensamentos que me considere escritora - LONGE DISSO!!!
De escritora não tenho nem quero ter nada, mas há dois pensamentos sobre escrever que me são particularmente queridos, por me identificar bastante com eles e são o de Elbert Hubbard e o de Ernest Hemingway.
O primeiro porque me faz pensar que eu vivo a vida e actuo de acordo com o que eu penso que os outros pensam que eu devo ser.
O segundo porque não há melhor terapia, melhor "alívio" do que escrever para exorcizar todos e quaisquer "fantasmas" que nos atormentem.

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