terça-feira, 17 de junho de 2008

Peter - e como a vida é tão curta para tristezas

Sei que tenho escrito pouco, que tenho usado mais as músicas para tentar transcrever sentimentos ou emoções, mas a verdade é que durante o dia passo a vida a pensar em coisas que gostava de escrever e partilhar... mas quando chega a altura de me sentar em frente ao computador... é a "branca" total.

No entanto hoje recebi uma mensagem do meu ex (sim, aquele que me estilhaçou o coração e a alma) que me fez repensar novamente as minhas prioridades.
Ele escreveu para me contar que um dos melhores amigos dele, que eu tinha conhecido numa das minhas estadias na Holanda, tinha falecido esta noite com um cancro fulminante!
Tinha 43 anos, casado, 2 filhos e, desde o momento que descobriu acidentalmente que tinha cancro nos intestinos (o mais mortal de todos) até à data em que faleceu, viveu menos de 3 meses.
O cancro é uma doença traiçoeira, que nos apanha desprevenidos, sem dar sinal até ser, na maior parte das vezes, fatal. E causa devastação nas suas vitimas e em todos os que lhes estão mais próximos.
E sei disso por experiência própria, pois tenho vários casos na família, dos quais o da minha madrinha representa um exemplo de sucesso e coragem.

Mas voltando à mensagem dele, fez-me pensar em quão tola eu sou, ou tão mesquinha, em estar triste, desiludida com ele, sabendo que ele, já na altura em que decidiu acabar tudo por mail, estava preocupado com o amigo.
Fez-me pensar na inutilidade de guardar tristezas e mágoas (mesmo nos casos de grandes mágoas), pois a vida é tão curta! Hoje estamos aqui, amanhã já não estamos.
Uma das minhas citações preferidas sempre foi "Não faças da vida um rascunho, pois podes não ter tempo de passar a limpo".
A morte do Peter e a dor dos amigos e família só fizeram com que me relembrasse disso.
Como poderia não dar o meu apoio, não estar ao lado dele no momento em que perde o amigo de mais de 35 anos de vida? Como não apoiar uma pessoa que sofre profundamente pela rapidez do processo, uma pessoa que estava esperançada nas melhoras do seu amigo, visto o tratamento estar a resultar, e que de repente o vê falecer em menos de uma semana?
Sou doida? Louca? Ingénua? Parva?
Devia ignorar esta pessoa e a sua dor e esquecer que o conheci?
Não consigo!!!
Por muita dor que me tenha causado, sei o que é perder um amigo, sei o que é perder um elemento da família (para ele o Peter era quase família) e sei como todos os apoios são importantes.
Também sei o que é um cancro, o que é saber que alguém que amamos tem cancro, o que são tratamentos a um cancro, o que é acreditar nas melhoras e depois descobrir que era ilusão....
E por isso, chega de tristezas pelas minhas "mágoas" e "dores de coração", pois comparadas com a morte não são nada.
Chega de afastar quem me magoou e está na altura de encarar tudo o que vivi como mais uma forma de aprendizagem e crescimento.
Estou muito, muito triste pela morte do Peter (apesar de o ter conhecido pouco), mas ainda mais triste pela dor que o Paul está a sentir neste momento e não o poder apoiar mais.
E por isso a minha actual mudança de vida (já em curso).
Acabaram as tristezas, os choradinhos, o trabalho que me deixa infeliz, estar triste com o que acontece aos outros, sofrer com as dores alheias, olhar para trás, etc.
Está na altura de aproveitar a vida ao máximo, fazer o que quero, quando quero, o que me deixa feliz, olhar para as infelicidades e quedas da nuvem como formas de encontrar alguma felicidade que de outra forma nunca veria.
Hoje estou aqui, amanhã posso ser levada por um cancro, por um acidente estranho, por qualquer acaso do destino!!!
E se vou continuar a precisar de tempo para digerir as minhas tristezas e quedas, vou tentar que ele seja sempre o mais curto possível e que possa continuar a seguir em frente.
O Paul já me tinha contactado algumas vezes e eu sempre recusei manter contacto (a mágoa era muito grande).
Mas depois de hoje, da sua rápida mensagem (e das que se seguiram), da dor que se sentia nas entrelinhas, só posso dizer que ele é humano, com defeitos e qualidades. Ele já na altura em que soube da notícia ficou de rastos e repensou muito as suas prioridades (se calhar foi uma das razões que o levou a tomar a decisão que tomou...), e se calhar eu fui demasiado egoísta para perceber ou dar mais apoio...
E assumir que eu só tenho de deixar de ser mesquinha e pequenina e de olhar para o meu umbigo e devo começar a viver a vida ao máximo enquanto aqui estou e apoiar os meus amigos, aproveitar a sua amizade, a sua companhia ao máximo!!!
E se isso significa abdicar de mim e do que sinto para ajudar os outros (como tantas vezes fui "acusada"), assim seja!
Mas não suporto a ideia de que alguém de quem gosto ou gostei esteja a sofrer... especialmente quando é por ter perdido alguém próximo!

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