domingo, 20 de abril de 2008

Arbitragem em PT - sonho ou pesadelo

Como agora tenho esta mania que sou escritora... decidi escrever os meus pensamentos sobre o que se passa (ou o que sinto) hoje em dia em relação à arbitragem de pólo aquático em Portugal.

Para quem não sabe, sou árbitro de pólo aquático.
Ou melhor... hoje em dia nem sei como me classificar, pois tirei o curso há 11 anos, tinha a categoria de árbitro nacional... mas apitei mais jogos na minha estadia em Marselha do que em Portugal em todos estes anos.
Depois de me ter cansado de nem ser chamada para árbitro (em 2001, depois de regressar de França) ou ser a 11ª escolha, chamada na véspera em desespero de causa... há mais de 1 ano que acedi a voltar a arbitrar, com a condição de fazer uma reciclagem antes disso (sempre são muitos anos sem apitar... e apesar de ter visto e presenciado CENTENAS de jogos nacionais e internacionais, para não dizer milhares, tenho a perfeita noção que "uma coisa é estar de fora... outra de apito na boca")... e nunca fui chamada para reciclagens, arbitragens de escalões jovens para praticar ou readquirir reflexos.. nada!
Ou me chamam para oficial, ou para tapar-buracos deixados por outros árbitros... na véspera dos jogos... ahhh e de 2ª divisão ou mesmo um de 1ª...

Por isso... decidi passar para o papel o que sentia... (é o texto que se segue):

ESTOU FELIZ

Hoje acordei e, finalmente, percebi que a arbitragem de pólo aquático tinha mudado!!!
Quase ao fim dos 4 anos da nova direcção e de 3 direcções… finalmente viu-se um projecto realizado e uma estrutura para a arbitragem. Nem sei dizer a alegria que sinto!
Estou feliz porque depois de ter tirado o curso há quase 11 anos… finalmente apito jogos de forma regular (consegui fazer a reciclagem porque tanto me bati, apitei um torneio de juvenis e passei para as divisões superiores – 2ª e 1ª)
Estou feliz porque valeu a pena não ter voltado a jogar nem me ter ligado a nenhum clube, para não prejudicar a minha carreira de árbitro (embora ache que devia ter dito que queria ser internacional em vez de dizer que queria ser árbitro para ajudar a modalidade… mas o que interessa é que estou a APITAR)!
Estou feliz porque a arbitragem passou a ser uma arbitragem Nacional. Existe um quadro de árbitros definido, categorias que tem de se cumprir, os árbitros são colocados nos jogos de acordo com a sua categoria e o nível do jogo…
Estou feliz porque ligo para o responsável pela arbitragem e tenho uma resposta rápida. Ou no pior dos casos ele responde à minha mensagem ou mail no mesmo dia (acabaram os inúmeros contactos sem resposta). Fico tão mais tranquila, pois sei que tenho um interlocutor para falar.
Estou feliz porque existe um plano de formação e acompanhamento dos árbitros e deixou de se pensar que formar árbitros era dar um curso e explicar as regras e depois eles sabiam tudo e o suficiente para andarem sozinhos sem supervisão. Hoje em dia há um quadro de formadores certificados (CAP) que depois da formação fazem o acompanhamento dos novos árbitros durante um mínimo de 5 a 10 jogos. Não é uma excelente razão para se estar feliz?
Estou feliz porque deixou de se pensar que jogos de infantis, juvenis, juniores, 2ª divisão ou “jogos que não decidem nada” são menos importantes que os outros e todos os jogos de Campeonatos Nacionais (e mesmo regionais) têm sempre 2 árbitros e 2 pessoas nomeadas para a mesa (ok… às vezes só se consegue uma, mas graças às acções de formação nos clubes, todos eles têm pessoas formadas para fazer mesa e que até recebem por isso!)
Estou ainda mais feliz por perceber que a arbitragem deixou de ser uma coisa para amigos e conhecidos e passou a ser uma coisa feita por mérito do árbitro (independentemente de ser do Norte, Sul, Centro… ou Cascos de Rolha)!
Estou feliz porque os clubes foram envolvidos neste processo de mudança. Hoje em dia os treinadores compreendem a dificuldade dos novos árbitros e convidam-nos para praticarem nos seus jogos de treino! E que os treinadores são os primeiros a dar o exemplo.
Estou feliz por a mentalidade de todas as pessoas envolvidas no processo ter mudado, por se pensar na modalidade em primeiro lugar e em protagonismo depois, por se pensar nos árbitros, treinadores, atletas, clubes… como merecedores de respeito…
Nunca pensei estar tão feliz por ser árbitro e fazer parte da equipa de arbitragem em Portugal.
E então se vos disser que estou feliz por….. por…… por …..
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxtrrrrrrrrrrrrrrrrrriiiiiiiiiiiiiiimmxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
O despertador tocou e quase caía da cama….
Já nem me lembro porque estava tão feliz… mas de repente tive um choque de realidade… e vi que não só nada tinha mudado, como as coisas tinham piorado.
A minha vontade começa a ser desistir e deixar de vez a arbitragem!!!
Há anos que se fala, mas nada é feito.
Nunca me quis ligar a nenhuma entidade (e tenho amigos em todas elas) porque me apercebo que na maior parte dos casos o objectivo é poder, ou guerrilhas, ou usar como base de lançamento ou projecção internacional (que me desculpem as pessoas que considero amigas... mas é um sentimento meu).
Já vi algumas mudanças de direcção na FPN… já lidei com muita gente (esta “coisa” de fazer locução, de ter estado na selecção, conhecer muitos jogadores e árbitros internacionais, … permite isso) e aquilo que observo é que cada um critica o predecessor… mas faz igual ou pior!!!
E fico triste… porque vejo uma modalidade a tentar crescer… mas sem bases, sem incentivo, sem moralidade… quer da arbitragem, quer de diálogo, quer de colaboração com clubes e associações.
Hoje em dia assisto a algo que nunca vi antes (se calhar não ligava tanto… sei que é o que vão dizer) … que é o facto de existirem cada vez mais pessoas a desistir de arbitrar, ou por estarem desmoralizadas ou/e por terem perdido a vontade de se investir.
E se há algum tempo eu as criticava por isso… hoje estou a um PEQUENINO passo de fazer parte desse grupo.
Se antes havia guerras entre Norte e Sul… agora sinto uma separação total.
Sinto que quem faz parte do Sul é “palha” para encher… aliás… nem se conta com a maior parte deles.
Diz-se que se deram cursos, que se formaram quadros. Desculpem?!
Provavelmente estou errada (assumo) … mas não se faz um árbitro por dar um curso… para isso, ele vai a qualquer site, descarrega as regras, estuda e passa num exame!!!
Da mesma forma que um jogador demora alguns anos a fazer (há sempre excepções… raras), um árbitro não passa a ser um bom árbitro porque aprendeu (ou decorou) as regras para um exame. Qualquer árbitro precisa praticar muito e acima de tudo ser acompanhado!!! Se possível por quem o formou.
Como se pode falar em criar quadros se as pessoas não são acompanhadas?
É a mesma coisa que reciclagens! Estão previstas nos regulamentos, mas que eu tenha conhecimento, nunca foram feitas (e andei à procura no site da FPN para ver se havia alguma coisa – assumindo na minha inocência que se falamos de um quadro nacional, será a FPN a organizar a reciclagem). Eu ando a pedir uma há algum tempo e… nada.
Muitas pessoas pensam que tenho “medo” de apitar 2ª ou 1ª divisão (como me pediram já várias vezes… na minha função de “tapa-buracos”)… mas trata-se de uma questão de credibilidade, coerência e honestidade (se não para com os outros, para comigo). Se o regulamento diz que um árbitro que não apite há algum tempo, deve descer de categoria ou fazer uma acção de reciclagem, coisa que defendo acerrimamente, porque havia eu de ser diferente?
Quer dizer… até sou diferente… pois recuso-me a apitar jogos de 2ª ou 1ª divisão sem ter passado por isso. Mas infelizmente… os torneios e Campeonatos Nacionais de escalões jovens passam… e eu não sou convocada (não sou caso único… são muitos). Ou melhor ainda… já dei conhecimento desta posição em relação a arbitrar de todas as formas possíveis (pessoalmente, por mail, por msn, para a FPN, etc.)… mas sou ignorada, pois se for preciso até me chama para fazer mesa… mas apitar é só para alguns…
Se calhar devia estar no Norte (e eu DETESTO assumir guerrilhas parvas e “lados”)… mas mesmo os árbitros ou oficiais do Norte se queixam que não são chamados…
Se calhar devia fazer parte do grupo restrito… ou ser mais “intima” de quem de direito…
Não estou com isto a querer criticar quem está a apitar ou a razão porque foi convocado(a)… mas ninguém me explica a razão de tantos árbitros nem serem contactados (inclusive já me ofereci para ir a jogos onde sabia que faltavam elementos da equipa da arbitragem, pagando a deslocação do meu bolso… claro que sem resposta) e de existirem tantos jogos de infantis, juvenis e juniores a serem apitados por árbitros internacionais, só por um árbitro, sempre pelas mesmas pessoas… já para não falar em 2ª divisão que na maior parte das vezes só tem um árbitro (estou a exagerar… um bocadinho) e raramente tem mesa (só mais um bocadinho… pouco… de exagero).
Porque se passa isso?
E não me digam que é por as pessoas nunca estarem disponíveis… porque muitas vezes falo com árbitros (defeito de conhecer muitos) que me dizem que nem foram contactados.
Não percebo porque depois há esta admiração por as pessoas ao fim de algum tempo se cansarem e preferirem privilegiar a sua vida pessoal em detrimento da arbitragem (para onde foram por paixão).
Bolas… se até eu que sacrifiquei sempre a minha vida pessoal pelo pólo (e até aceitava só fazer mesas… e nem receber… ou faltar a jantares de família ou de amigos como já sucedeu esta época), só pelo respeito que as equipas e jogadores me merecem… me sinto “usada”, explorada… e começo a estar cansada… e a pensar que se calhar os outros é que tem razão!!!
E mais cansada fico quando vejo as atitudes tomadas em relação a novos árbitros.
Revolta-me pensar que há pessoas que apitam há imenso tempo e nem uma porcaria de equipamento lhes deram!!! E apitam jogos do Nacional e de seniores (e aqui tanto há pessoas do Norte como do Sul).
Será que equipamento é só para alguns (e eu até tenho… se bem que nem perceba porquê… porque não me deixam fazer reciclagens ou apitar escalões jovens…)???
De que grupo/seita/região deve uma pessoa ser para que possa evoluir e aprender enquanto árbitro?
O que é preciso fazer para que se contactem todos os árbitros existentes para que não seja necessário haver provas inteiras a serem apitadas pelo DTN (para que se possa dedicar à sua função deixando a arbitragem para quem quer ser e seguir a carreira de árbitro)? E nem me falem em filiações… porque nem eu estou filiada (lapso meu que nem me lembrei ou fui lembrada disso) nem muitos dos árbitros que andam a apitar no nacional… e há muitos outros que nunca apitaram e estão como nacionais…
Como fazer com que os clubes não se sintam revoltados com as pessoas que lhes apitam os jogos (e penso que a maioria hoje em dia começa a compreender que não é pela falta de experiência ou conhecimento do árbitro que está a apitar mas sim pela falta de planeamento, organização e acima de tudo… ACOMPANHAMENTO e comunicação). Até porque estes árbitros nem tem a culpa de não ter tido acompanhamento, e até tem a coragem de assumir um desafio, muitas vezes superior às suas capacidades… naquele momento da sua formação/evolução.
Afinal estava tão feliz… e na verdade este pesadelo é real.
Será que algum dia vou deixar de viver este pesadelo (sim… eu vivo as coisas que me apaixonam… e o pólo aquático e a arbitragem sempre me apaixonaram) e conseguir viver aquele sonho que me estava a deixar tão feliz?
Será que algum dia os clubes vão conseguir participar no processo de formação e as pessoas vão ter uma pessoa que dê a cara pela arbitragem e que seja contactável (por muito difíceis que sejam as situações)?
Será que vale a pena continuar a sonhar que para ser árbitro não é preciso fazer parte do grupo A, B ou C que se dá bem com o CA… e basta ser árbitro e estar disponível?
Eu sou idealista… mas cada vez mais penso que não consigo ser assim tão idealista.
E se bem que saiba que a arbitragem tem as suas “ovelhas negras”… hoje em dia não consigo criticar muitos árbitros por terem passado a estar indisponíveis por sistema… Se eu que me disponibilizava sempre ou arranjava maneira de “tapar os buracos” dos outros… me sinto revoltada de ser chamada para apitar jogos de 2ª divisão em 10ª escolha e sem que tenham contactado árbitros mais experientes!!!
Se eu começo a pensar que é melhor ir para a praia e quem faz as convocatórias ou colocou as coisas neste estado que se “lixe”… e sempre fui “comendo e calando” por respeito às equipas… e ia sempre… para que ao menos estivesse lá alguém… mesmo quando estava na rua e nem equipamento tinha... como posso criticar os outros?!
Realmente… nunca estive tão triste com a arbitragem como agora…
Nada mudou (tanta conversa… tanta critica a quem lá estava antes…) só que a “Máfia” passou a ser no Norte em vez de ser do Sul!!!
A decisão que aparentemente terei de tomar….ou vou para o Norte e pode ser que, se for boa menina e me der com as pessoas certas e calar a boca (não comento mais que isto)… vá apitar alguns jogos (que me desculpem os meninos que não apitam mesmo sendo bons árbitros e do Norte)… ou desisto disto… pois o que aparentemente se quer quando se está à frente… é poder… e eu já não tenho idade para andar nestes jogos.
Dei e darei sempre o possível à modalidade… mas pela modalidade e não para que me conheçam!!! Para me conhecerem… não preciso desses protagonismos ou “amizades”…

Fica a tristeza… depois da felicidade… que afinal não passava de um sonho sempre adiado, aparentemente uma utopia sem solução L

Sem comentários:

Related Posts with Thumbnails