Há anos que a nuvenzinha pedia um cão ou um gatinho.
Sempre lhe expliquei que a mamã não podíamos ter um gato porque a mamã era muito alérgica e não podíamos ter um cãozinho porque não seria justo para ele ficar todo o dia sozinho em casa, pois saímos cedo e voltamos tarde.
Ela já estava mais ou menos mentalizada, o que não a impedia de pedir sempre às fadinhas, ao Pai Natal e a todas as personagens mágicas que lhe oferecessem um cão ou gatinho de verdade.
Com o desemprego, a melhoria de ânimo e a disponibilidade de tempo, achei que tinha chegado o momento de lhe dar essa alegria, responsabilidade e um amigo para a vida.
Uma vez que do lado da tia materna não ia ter nenhuma ajuda, falei com a tia-avó paterna, que colabora numa associação, para saber se tinham cães pequeninos, e lá fomos nós depois das aulas ver os cães que tinham - até porque a pequena nuvenzinha tem medo e cães pequeninos e que saltem ou ladrem muito (está muito habituada ao grande Serra da Estrela do avô).
A minha ideia, ao chegar à Associação S. Francisco de Assis com ela, seria de nos oferecermos como voluntárias, numa fase inicial, para ela ver o trabalho que dá, se habituar aos cães, e depois logo se via como corria - nota-se que vivo numa nuvem?
Mal saiu do carro já estava histérica de ver tantos cães. Fomos com uma das voluntárias e a tia-avó para a zona onde estavam os dois cães mais pequenos para adopção e fiquei a ver a reação dela.
Um deles era um rafeiro, estilo mini labrador preto, novinho, lindo, muito brincalhão e sempre a pedir festas. O outro era um rafeirito pequenino, muito traumatizado, de olhos verdes, que tinha pavor das pessoas e dos outros cães e tremia por todos os lados e fugia.
Eu fui logo ter com o cãozinho preto, que só tinha o enorme defeito do nome (Benfica), mas ela quando viu os saltos e latidos fugiu aos gritos, era muito para ela. Foram com ela ver o outro cão que, quando se aproximou dela e ela lhe colocou a mão em cima, deixou de tremer e ficaram os dois sentados às festas!
Estava escolhido o cão!
A tia-avó-madrinha ficou logo toda contente e a dizer se queríamos trazer logo o cão, mas eu disse que não, que ainda tínhamos de pensar bem se conseguíamos ter um cão, que não estávamos sequer preparadas em casa para ter cão (não havia rigorosamente nada, nem comida, nem cama, nem trela, nada). Queria falar com a nuvenzinha, explicar as responsabilidades, ver se conseguíamos ficar com um cão e, se fosse o caso, então voltávamos para o levar. Queria também vir mais alguns dias com ela para se ambientarem os dois e ver como se davam antes de ir com ele para casa.
Ela estava louca de alegria, sempre a pedir ara levarmos o cão, e a minha tia só dizia que eu era uma sádica maldosa, porque ambas sabíamos que eu ia levar o cão, mas eu sempre lhe disse que não, que íamos pensar.
Fomos embora....
A tia-avó-madrinha ficou lá a ver se o cão estava vacinado e desparasitado, quando iria ser esterilizado e o que era preciso para ser adoptado, para depois nos dizer.
Já ia a meio caminho de casa quando recebi um telefonema. Era ela, a dizer que podia ir lá buscar o cão, que tinha tudo pronto e nos ofereciam ração, trela, cama, mantas, etc.!
Sem dizer nada à nuvenzinha voltei para trás.
Ela ouviu o telefonema e viu a voltar para trás, mas eu disfarcei e disse que era uma amiga a pedir para ir buscar o filho para jantar que ela não tinha carro - e a minha pequenita, inocentemente, acreditou!
Quando percebeu que estávamos a regressar à Associação mal queria acreditar que o sonho de uma vida se ia concretizar!
Saímos do carro, ela foi brincar com o cão, que tinham trazido novamente para a entrada, enquanto eu fui tratar da papelada. Ainda aí ela não sabia o que eu estava a fazer - eu dizia que estava a tratar dos papeis para que pudéssemos ir tratar do cão, como voluntárias na semana seguinte. Ela ia acreditando, tentando não pensar que poderia estar na realidade a adoptar o cão.
Quando finalmente nos trazem a ração e uma cama ela não resistiu mais e todas as suas incertezas se tonaram certezas "Mamã, vamos mesmo , mesmo ficar com o cão?"
Repetia incessantemente a mesma questão, com medo que não fosse verdade e abraçava-se a mim e ao cão a chorar de alegria. Coitadinho dele, que estava aterrorizado, com tanta gente e confusão.
No fim de tudo tratado, lá encontrei um saco-cama no carro que se tornou automaticamente na manta do cão e, com muito carinho e apoio da voluntária, lá o conseguimos colocar no carro um cão que tremia descontroladamente. Mais uma vez, quando ela entrou e se sentou ao lado dele com a mão sobre ele, o cão derreteu e acalmou!
Só tivemos tempo de passar no veterinário para lhe dar um comprimido para as pulgas e carraças (adoro, evita as coleiras, que me esqueço sempre de renovar), comprar shampoo para o primeiro banho e rumar a casa, para o inicio de uma nova vida a 3.
Conheçam o Senna.... Ayrton Senna
PS - Era o nome que tinha no canil e ela não quer mudar
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