sábado, 7 de janeiro de 2017

7/365 - A igreja

A igreja é pequena, muito pequena (é uma antiga ermida).
Está a precisar de obras urgentes (somos sempre relembrados disso em cada celebração). O telhado tem a madeira a ceder, a tinta das paredes está a cair, os bancos estão velhos... e no entanto o que se sente é amor e alegria!
Os mais pequeninos sentam-se do lado direito, os mais crescidos do lado esquerdo e o grupo de jovens na frente, com a viola ou os seus instrumentos (hoje era um Djembé) e as vozes bem afinadas. Os adultos ficam nas filas atrás ou, como no meu caso, no "andar de cima". Tanto o pároco como os seus ajudantes são simplesmente... fabulosos, ou não fossem Consolata!
A minha fé, ou falta dela, sempre foi algo controverso ao longo da minha vida. Cresci como católica praticante até ao Crisma. Com a morte do meu irmão a fé sofreu um grande abalo e mesmo sendo catequista, os escândalos e abusos da igreja acabaram por a destruir, pelo menos na parte do ir à missa ou das confissões, que confesso sempre ter achado um pouco hipócritas.
No entanto, esta igreja, este padre, este grupo de jovens, a minha filha e a sua alegria contagiante, a alegria que se vive nestas missas estão a conseguir reconciliar-me com a minha fé.
Apesar de a ter batizado (quase mais como tradição familiar, confesso, e noutra igreja), nunca lhe quis impor nenhuma fé. Sempre desejei que ela estudasse as diferentes religiões, como eu fiz e, se se identificasse com alguma, seria livre de a seguir.
Mas um dia, ao acompanhar a amiga à catequese, ela apaixonou-se! Adorou a catequese, adorou a missa e ficou convertida - nasceu uma "beata"!
Hoje em dia ela desiste de ir ao teatro, a festas de anos, a saídas.... para não faltar à catequese e à missa! Só mesmo por algo muito especial (ou alguém) é que ela abdica destes seus momentos.
E como a compreendo!
Começam sempre com a catequese, que é à base de actividades de carácter lúdico-social e no final tem uma missa especialmente vocacionada para os jovens, dos mais pequeninos que iniciam o seu caminho na fé aos mais crescidos. A missa é muito musical, com a maioria das orações a serem cantadas pelo grupo de jovens, orientados por missionários Consolata com vozes simplesmente incríveis! Em quase todas as missas há um ecrã onde estão a ser projectadas as leituras ou as letras das músicas e das orações, para que todos possam seguir. Os sermões são curtos, muito interactivos, com questões e brincadeiras com os jovens, de forma a que compreendam o que foi dito de uma forma adequada e adaptada a eles. As músicas das orações são também, por vezes, em dialectos africanos, com tanta musicalidade que os jovens até dançam ao ritmo delas! Mesmo o momento da comunhão é lindo, com os mais pequeninos a também irem "comungar", com os bracinhos cruzados em frente do peito e o pároco a dar-lhes a benção!
Mas, o mais especial, para mim, é mesmo a oração do Pai Nosso! Não há missa nenhuma que este momento não me traga lágrimas aos olhos de emoção! É a introdução e os gestos, é o facto de todos eles darem as mãos e criarem uma enorme corrente que atravessa toda a igreja de um lado ao outro de entre todas as filas enquanto rezam o Pai Nosso, é a alegria com que se dão à oração... simplesmente ... sem palavras!
Será que é agora que me concilio com a minha religião?

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