Poderia escrever muito sobre isto, mas a Lénia, no seu Not So Fast, escreveu tão melhor do que eu, parecia que me estava a retratar:
"Talvez fosse o final da solidão, pensei, não sabendo ainda que era apenas o princípio" - João Tordo.
Guerra antiga, esta. Uma vida inteira sozinha. Sem amarras. Sem pertencer a lado nenhum. Sem me sentir suficiente para fazer ninho. Um coração sedento de carinho, vazio de tudo. Ainda assim, um coração disposto a dar. Um coração disposto a partir-se em milhares de bocadinhos. Prefiro isso a não sentir. Até podia resguardar-me e defender-me e montar toda uma muralha à minha volta, tornar-me inatingível, inalcansável, impenetrável. Mas, e depois? Isso é viver? Isso é alguma coisa? Para mim, não. E sei que esta falta de defesas me torna um alvo fácil. Sei que estou mesmo a jeito de me estraçalhar em menos de nada. Já aconteceu. E depois? Depois juntei os bocadinhos e colei-os como pude. Ficaram resquícios, claro que sim. Ficou aquela certeza de que nunca serei suficiente. De que haverá sempre um "mas" guardado para mim.Tenho sido talvez demasiado transparente nesta fase que estou a passar. Não tenho escondido os danos. Não tenho fugido do mundo. Não tenho fingido. Dei o corpo às balas. E morri.Tenho tentado conhecer-me neste processo. Sempre disse que era bicho do mato, solitária e abandonada. Demorei a perceber que sou eu que afasto as pessoas. Que sou eu que não me apego. Não me agarro. Porque não acredito que alguém queira agarrar-se a mim. E deixo-me ficar. Sossegada e sozinha no meu canto. Agora, talvez demasiado transparente, tenho recebido coisas de sítios que eu achava que nem sabiam que eu existia. Amigos antigos, que o tempo e a vida levaram para longe, voltaram para me dar um carinho. Para me dar força. Para me dizer que vale a pena. E eu... eu fujo. Aceito o que me dão, mas não me deixo ficar. Finjo que está tudo bem, não quero que as pessoas se incomodem comigo e saio de cena. Porque acho sempre que não mereço que percam tempo comigo. Porque nunca ninguém me olhou nos olhos para me dizer "quero-te aqui comigo". Seja de que forma for. Ou talvez o tenham feito e eu não tenha visto. Ou talvez eu tenha tanto medo de ser abandonada, deixada para trás, rejeitada que não faço casa em lado nenhum.Sou a pessoa mais carente que conheço. E tudo o que eu queria era aprender a aceitar o que me dão e a não pedir nada. Mãos abertas para aceitar o que chega, mãos abertas para deixar voar o que não quer ficar. E um abraço apertado no final da solidão.
A verdade é que, como ela, com o tempo aprendi a fingir cada vez melhor. Mesmo aqueles que me conhecem bem (ou pensam que sim) dificilmente conseguem perceber se estou bem ou mal. Aprendi que é melhor estar sempre bem, aprendi que não está lá ninguém quando preciso de ajuda, porque aprendi que tenho de ser a força motor que puxa tudo e todos.
E não faz mal.
Faz parte da vida (pelo menos da minha).
Como ela, nunca consegui fazer parte de nenhum grupo, nunca consegui sentir que me integrava, saltitava de lado para lado como borboleta - e sempre acharam que era uma fantástica RP :)
Sempre ouvir que "és tão forte", ou "aceitas tudo tão bem", ou "não sei como consegues"... sem mostrar absolutamente nada se me estão a magoar ou a deitar abaixo com negativismos e toxicidade é uma arte que fui aperfeiçoando ao longo dos anos!
Talvez seja assim, talvez sejam fases, talvez seja necessário ser assim... quando se tem filhos não nos podemos ir abaixo, quando temos um pai em constante depressão e que depende de nós para (quase) tudo não podemos fraquejar, quando a super-mulher que é a nossa mãe já está cansada de levar o mundo aos ombros e mostra claros sinais de depressão, temos de a apoiar e não sobrecarregar mais...
Mas se pensar bem, a verdade é só uma: não vale a pena que se incomodem comigo, eu estou bem, estou sempre bem - são 33 anos de aprendizagem :)
Sem comentários:
Enviar um comentário